CRÓNICA- Podemos é menos podemos

Não concordo com o dizer espantado que circula sobre a formação espanhola Podemos. As coisas, na realidade, são um bocado diferentes das leituras bombásticas que se fazem das sondagens. Podemos  atinge, de facto, na sondagem o 27% da intenção de voto, no entanto, a questão não está nesta ascensão, mas sim na queda estrondosa do chamado voto de esquerda capitaneado pelo PSOE e também pelo frente político do PCE (IU). O PSOE cai para o 20% e o PCE (IU) fica no residual 3,8%. Este pormenor diz-me bastante mais que o 27% de Podemos. Perante esta leitura podemos dizer que o PCE entra em fase terminal. Mas, a sondagem que provocou o furor e provocou manchetes em todo o mundo diz mais coisas e diz coisas muito mais interessantes, por exemplo: o desencanto estaria marcado pelo índice de abstenção do 20% mais a confusa habilidade do voto em branco e de outros partidos minúsculos do 18%. Podemos capitaliza, só, uma parte do descontentamento ou da indignação.
No entanto, se formos à leitura da intenção de voto de Podemos encontramos mais um dado que nos diz que o balão é um balão que pode fazer buff e desaparecer a assobiar ao ascender aos céus. Os possíveis votantes de Podemos dizem-nos que o 33% votaria nesta formação por aproximação de ideias e o 42% diz-nos que seria uma opção provocada pelo descontentamento. Posso aventurar-me e dizer: destes 42% podem evaporar-se muitos pelo próprio desencantamento que provocará, certamente, Podemos.
Esta organização nasce desde um aproveitamento e nasce desde uma quezília que é bastante numerosa como ficou evidenciada no seu recente Congresso. A agrupação que se chama Anticapitalista (de origem nos partidos trotskistas) sente-se lesada tanto nas normas anteriores ao congresso como nas resoluções que se sintetizaram no Congresso visto que se votava pelo conjunto das propostas e não pelas propostas individualizadas ou sectoriais. Os descontentes têm uma importância que se chama 20% e esta percentagem – estruturada a nível nacional – é bastante mais que uma corrente de vigia ao estético Pablo Iglésias e ao seu alter-ego Monedero.
Mas, se há alguma gota que me provoca asceticismo mais acentuado essa gota chama-se Felipe Gonzalez. O pior que lhe poderia acontecer a Podemos é que este pope da política espanhola mostre naturalidade e evidencie uma certa necessidade da existência desta nova organização. Se Felipe Gonzalez aponta a possibilidade dessa necessidade; está a dizer: “Podemos é bom e necessário para o Sistema”. E todos sabemos onde chegou o Sistema que se instaurou em Espanha. Todos observamos como o cárcere ou os tribunais se enchem de políticos de direita e esquerda. Todos sabemos que o Sistema também se chamava: “cartões black”. Podemos não pode tanto.

José Luís Montero

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