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A mostrar mensagens de janeiro, 2017

Trump & Costa, SA

É possível que Donald Trump seja um bom pai de família. E que saiba comer à mesa. Que não mastigue de boca aberta, que não coce o cabelo com o garfo, que não arrote nos intervalos entre os pratos. Mas é certo que a personagem, na sua aparência, não é atraente. O casaco, ou sobretudo, tipo fraque, a gravata que lhe vai às partes, o tom alaranjado da pele, o penteado que já foi parecido com um ninho de pássaro e que agora se apresenta mais alisado…  E há o modo como fala, ligeiramente inclinado para a frente, como se fosse cuspir palavras mais acesas contra os seus interlocutores. Nota-se, no entanto, que anda divertido. O que não lhe diminui a arrogância e a sobranceria, típicas de quem não terá tido de depender muito dos outros no seu percurso de poder. Trum foi eleito, respeitados os mecanismos do sistema político presidencialista dos EUA, presidente de um dos países maiores e mais fortes do planeta. O que anunciou e o que já parece ter decidido, em termos políticos, agitou mais

Portugal não é a França

Há anos, talvez décadas- certamente desde os disparates que Miterrand fez na economia francesa nos anos 1980, que foram tão graves que teve que entregar a economia a Delors, que corrigiu os erros mais trágicos e evitou o pior- que  a França vive acima das suas possibilidades.  Contudo, essa situação tem sido alimentada pela Alemanha, que em troca da sua unificação e de não ser incomodada na sua hegemonia europeia,vai financiando a França e fechando os olhos aos seus desmandos. E assim,os franceses vivem um declínio dourado. Sorte (ou azar deles). Como aquela espécie de livro de memórias de Hollande explicitou, Portugal não é a França. A França faz o que quer, porque tem poder, faz o que quer, porque pode.  Portugal não pode. Não tem poder, não tem força.Desde 1974, que perdeu qualquer esperança de ser um país soberanamente independente. Hoje tem que se adequar a um conjunto de regras, com as quais obviamente se sente desconfortável. Desde 1974 já teve 3 intervenções do FMI, e

Espírito Santo Salgado e Sócrates. A nossa visão

Em finais de 2015, quando ainda não estava feita a ligação pública criminal entre Salgado e Sócrates escreveu-se no livro "Os Três Magníficos"a partir de pp. 56 "O manifestamente importante é perceber que o GES realiza, através das suas empresas, transferências avultadas que, mais tarde, irão permitir a Carlos Santos Silva beneficiar José Sócrates com empréstimos sucessivos e variados. Dito de outro modo, a vida de José Sócrates é sustentada por transferências provenientes do GES, designadamente de Hélder Bataglia, da ESCOM.(...). O consulado Socrático (2005 ‑2011) tem uma indelével relação negocial com os Espírito Santo (...).Com Sócrates, Ricardo Salgado torna ‑se o maior banqueiro de Portugal. Não restam dúvidas sobre as claras ligações BES/ GES/Sócrates. E, recapitulando, Carlos Santos Silva, que paga as contas de Sócrates, assegura o pagamento com os fundos que, em última linha, provêm das atividades dos Espírito Santo em Angola." Portanto, não se tem dúvi

Sentido de Estado ou sentido de estar?

Um canal de televisão mostra o Presidente da República a percorrer as barreiras da PSP que contêm manifestantes, a perguntar “Onde está o abaixo-assinado? Onde está o abaixo-assinado?”  Depois de vários “’Tá bom?” e beijos (às manifestantes), o Presidente da República encontra o manifestante que tem o abaixo-assinado e que lho entrega, dizendo-lhe que o que está em causa são “as carreiras”, que desde 2010 não há aumentos, que deve interceder por eles junto do Governo. “Eles” são os trabalhadores da Imprensa Nacional – Casa da Moeda (IM-CM) que, como toda a função pública, viu o governo do PS a cortar-lhes salários e a bloquear as “carreiras” um ano antes da bancarrota. Um outro canal de televisão, pouco depois, mostra mais: o ministro das Finanças (que tutela a IN-CM) a escapulir-se apressadamente aos manifestantes e, depois, o Presidente da República a receber o abaixo-assinado e a dizer, aos jornalistas, que ia falar com o presidente (ou director) da IN-CM e que depois ia ler

PSD, sim, TSU, não

Devem estar a começar os alaridos pelo facto de o PSD ir votar contra a baixa da TSU, quando esta foi uma das medidas-bandeira do governo Passos Coelho.  A realidade é que o PSD faz muito bem, e já era tempo de se comportar como oposição, ao contrário do que fez em duas ou três votações passadas em que salvou o governo de Costa. Numa democracia real, o confronto é a essência do exercício político. Costa percebeu e praticou isso quando recusou a "Grande Aliança" com o PSD e buscou a aliança à esquerda. Fez bem. Clarificou águas, apresentou uma alternativa ao PSD e à sua política. Ora, decorre deste acto que o PSD tem que se assumir como oposição combativa e não semi-apoio do governo. E é dentro desta posição estrutural que se exige que o PSD vote contra o governo, excepto em matérias de muito superior interesse nacional, como uma declaração de guerra, uma chegada da troika, uma reforma negociada do Estado Social, elementos fundamentais do regime democrático.  Subir ou b

A nacionalização do BES/Novo Banco

O espaço público anda a ser inundado por sugestões sábias de vários palradores aconselhando a nacionalização do Novo Banco. Há anos,muito antes do colapso do BES no Verão de 2014, defendemos a nacionalização e desmembramento do Grupo BES, em artigo público, face ao poderio tentacular que o Grupo BES estava a obter e aos indícios, que eram do nosso conhecimento, de uma frágil situação financeira.Obviamente, ninguém ligou, e o BES continuou a sua caminhada inexorável para o abismo. Essa nacionalização proposta era uma nacionalização estratégica preventiva para evitar um mal maior e grave.  Hoje a nacionalização proposta é muito diferente. Podemos encarar a proposta actual de nacionalização do Novo Banco de duas perspectivas essenciais: ou estamos perante uma táctica negocial do governo com a Lone Star, querendo dizer ao fundo que existem várias alternativas para o Novo Banco, não se estando perante uma situação Lone Star ou o caos, e nestes termos seria uma estratégia como out

Tempos de loucura

1. Os juros da dívida portuguesa, a 10 anos, passaram os 4 por cento. O anterior ministro das Finanças do PS (Teixeira dos Santos, um príncipe do Renascimento quando comparado com o seu actual sucessor) disse em 2010 que quando os juros chegarssem aos 7 por cento seria necessário estender a mão à caridade internacional. O terceiro empréstimo internacional chegou em 2011 quando os juros já iam a 10 por cento. O actual chefe do Governo disse que não estava preocupado. O seu antecessor José Sòcrates terá dito mais ou menos o mesmo ainda em 2011. 2. Francisco Louçã, trotzquista emérito, professor doutorado de Economia, fundador do BE e uma mistura de bonzo com bispo do actual regime, disse que a sua jovem deputada Mariana Mortágua havia de ser ministra das Finanças. Não secretária de Estado de uma “causa” qualquer mas ministra das Finanças. Louçã saberá o que diz e o que quer. Bem vistas as coisas, a aventureira Mariana até pode ser uma boa herdeira de Mário Centeno. Já estivemos mais

Mário Soares. Para quê escrever mais?

Face às toneladas de letras vertidas a propósito da morte de Mário Soares, por que razão o pequenino e modesto TOMATE iria escrever qualquer coisa?  Na realidade, a vida e a obra de Mário Soares já foram dissecadas até à exaustão: Soares combateu a ditadura, Soares lutou pela liberdade, Soares abriu o caminho para a Europa, Soares foi o Presidente de todos os Portugueses. Em suma, Soares é fixe. Vale a pena falar na descolonização trágica em que Soares participou ou liderou? Vale a pena falar nas manigâncias financeiras descritas por Rui Mateus? Vale a pena esmiuçar as razões que levaram ao confronto entre Soares e Eanes? Vale a pena perceber por que razão todos os socialistas famosos estiveram contra Soares? Vale a pena falar no apoio bizarro a Sócrates, nas ligações a Lula e aos desastrados negócios da PT? Não vale.  Todas as pátrias necessitam dos seus heróis, e Soares será o herói do final do século XX português.

Novo Banco: o falhanço da conspirata Espírito Santo?

Há uns tempos (05-12-2016) em artigo no TOMATE  aventamos a hipótese que os Espírito Santo, via José Maria Ricciardi, estariam prestes a retomar o controlo do BES( agora Novo Banco) sob a capa de umas sombras chinesas, o Haitong Bank (antigo Banco Espírito Santo Investimento) e uma tal de Minsheng, que se nos afigurava uma fachada de qualquer outra coisa. Era um cenário estimulante. O alerta para tal cenário, tinha sido dado inadvertidamente por Luís Marques Mendes, amigo de Ricciardi, numa das suas revelações dominicais em primeira mão, em que afirmara que os chineses estavam prestes a ficar com o BES, uma vez que as restantes propostas não eram atraentes. Ao mesmo tempo, percolava a teoria que o BES não tinha sido “salvo” por teimosia de Pedro Passos Coelho, por isso a sua resolução não tinha resultado de actos criminosos dos Espírito Santo, mas da politiquice de Coelho… Tudo parecia apontar para que os Espírito Santo, com ou sem chineses a sério (já anteriormente os Espírito

Ainda vamos ter saudades de Américo Thomaz?

O Presidente da República foi inaugurar uma instituição social e entregaram-lhe a chave com que abriria a porta inaugural. O Presidente enfiou a chave na fechadura e tentou rodá-la mas nada – a porta não se movia. Perante o embaraço da situação, e ao aperceber-se de qual o era o problema, um dos elementos da sua comitiva sussurrou-lhe: “É com os dentes para cima.” E o Presidente voltou a enfiar a chave na fechadura, virando a cara para cima, abrindo a boca e expondo bem os seus dentes. Noutra ocasião, numa visita pelo interior, improvisou perante as personalidades locais, e começou: “Esta é a primeira vez que aqui venho desde que cá vim pela última vez.” Terá sido por algumas destas e por muitas outras que constou sempre que a oposição ao regime largou uma vez no Rossio um porco vestido de almirante. Os dois primeiros episódios foram, com razão ou sem ela, atribuídos ao último Presidente da República do Estado Novo, Américo Tomás/Thomaz (almirante, 1894 – 1998, oficialmente o ap