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A mostrar mensagens de junho, 2017

Pedrógão Grande: os nus e os mortos

Os incêndios florestais são uma rotina. Afectam todos os governos. As responsabilidades são públicas e privadas. São lá longe, no interior, mais ou menos esquecido. Tem sido sempre assim. Mas nunca com tantos mortos. É isso, até, o que mais impressiona no caso de Pedrógão Grande. Além do facto de as mortes ocorridas (64, pelo menos, com todas as dúvidas que advêm da não identificação de corpos carbonizados e destroços por revolver) não terem sido, na sua maioria, em locais directamente afectados pelas chamas mas numa estrada pelo meio de árvores. Que se incendiaram. E para onde a GNR desviou o trânsito. Uma semana depois não há resposta para todos os enigmas. Nada parece claro. Não se percebe como as autoridades civis, policiais e políticas não agiram, agiram mal ou descoordenadamente. Olha-se para os números e as suspeitas de encobrimento são mais do que muitas. Não se percebe como é que falharam os sistemas da “protecção civil”. Não se aceita, ao mesmo tempo, a leviandade, a dem

Trump: e se nos informassem?

Num dos seus espaços de comentário na SIC, Miguel Sousa Tavares (que dificilmente se poderá considerar um modelo) proclamou que Donald Trump “não podia” ser presidente dos EUA porque — por estas palavras ou outras de sentido idêntico — vestia-se mal. Tanto quanto me recordo, não se referiu ao cabelo nem ao tamanho das gravatas do alvo da sua ira. Mas podia tê-lo feito. Este tipo de comentário é hoje o paradigma do que a imprensa portuguesa, em geral, publica sobre o presidente dos EUA e sobre tudo aquilo que é americano e que tem a ver com o domínio do poder executivo local (do aparelho de Estado às decisões de governo, passando pela política externa). Mas não só: é porque a mulher não lhe dá a mão, ou porque uma actriz famosa o critica, ou porque — lá chegaremos, se isso se souber — ele deixa o tampo da retrete levantado depois de urinar. Com Trump na presidência há meio ano, é quase impossível saber pela imprensa portuguesa o que realmente se passa na política interna e na polít

Sócrates: o mar de lama

Ainda não percebi se Sócrates representa uma excepção, ou teve azar porque esticou demasiado a corda e foi descoberto, não tendo, contudo, feito diferente dos outros. Se repararmos em tudo o que tem vindo a lume acerca do consulado de Sócrates, este foi um mar de lama, ou melhor, um mar de merda, em que ele se atolou e com ele o país inteiro. Os factos são inúmeros: -A falência do Estado Português e o recurso à "ditadura" da troika; -O colapso do BCP; -As negociatas do BES/GES; -O colapso da PT; -As negociatas da EDP; -O encerramento da Universidade Independente; -O Freeport; -A manipulação dos principais cargos da justiça. -A castração da TVI. E muitos mais haverá por descobrir.  Neste vórtice foram indelevelmente assassinados os caracteres de pessoas diferentes como Jorge Jardim Gonçalves, Filipe Pinhal, Manuela Moura Guedes,Fernando Lima, António Labisa,Rui Verde, e muitos outros, com ou sem razão. Mas, a realidade é que Sócrates criou um mundo

Como o politicamente correcto está a matar a democracia (2): o protofascismo

Há pouco tempo, tendo chegado à fila do supermercado com meia-dúzia de compras, fui interpelado pela empregada com um esforçado “Olhe, não se importa de dar prioridade?”. Ela apontou e eu vi a pessoa a que eu devia – por lei, já lá vamos – “dar prioridade”: uma jovem de vinte ou trinta anos com uma criança, que parecia ter talvez uns dois anos, num carrinho de bebé dos que parecem verdadeiros veículos de combate. Cedi. A criatura, que eu já tinha visto a passear-se calmamente no supermercado, pagou as suas ou três compras, e passou. Sem olhar para mim, sem agradecer. Mas, talvez apanhada de surpresa, produziu um “Obrigada” contrariado quando eu a interpelei: “Ao menos, agradeça.” A explicação de base para esta atitude está numa lei recente (Decreto-Lei n.º 58/2016, de 29 de Agosto), que define uma prioridade que é praticamente absoluta para todas as filas de espera. Abrange idosos, deficientes, grávidas e “‘Pessoa acompanhada de criança de colo’, aquela que se faça acompanhar de c

Como o politicamente correcto está a matar a democracia (1): a nova censura

Às 22h08 de ontem, sábado, dia 3 de Junho de 2017, houve mais um atentado terrorista que, à hora em que escrevo, tinha provocado 7 mortos e 48 feridos. Algumas testemunhas ouviram os gritos dos atacantes a referirem-se a Alá. Às 00h25 a Polícia londrina informava ter-se tratado de um ataque terrorista. Não sei a que horas fechará a edição diária do jornal “Público” mas não deve ser, decerto, antes da meia-noite. E, como em todos os jornais, haverá seguramente alguma margem horária, se houver notícias de última hora que o justifiquem. Portanto, o “Público” poderia ter noticiado o atentado, como tal. Mas não o fez. O que fez, em vez disso, foi uma pérola do jornalismo dos nossos dias (ou, melhor, de um neojornalismo que está a substituir o jornalismo em Portugal): no canto inferior esquerdo da primeira página, publicou o título “Várias pessoas atropeladas e esfaqueadas em Londres” e o texto “Novo ataque no centro da capital britânica fez várias vítimas na Ponte de Londres e num merc

Os negacionistas da realidade (eu)

Acredito que o Holocausto aconteceu. Não ponho em dúvida o sofrimento do povo judeu e a selvajaria alemã. Acredito que o 9/11 foi o resultado da acção de um grupo de terroristas comandados por Bin-Laden, e não uma conspiração da CIA. De um modo geral, a minha crença na realidade é a semelhante ao "reasonable man" do direito inglês.  Por isso, sinto-me à vontade para dizer que não acredito absolutamente nada nas "boas notícias" que supostamente aparecem sobre a economia portuguesa. Não quero com isto dizer que se estejam a falsear estatísticas ou números, mas apenas que esses números, à partida, não representam aquilo que está a ser assumido: que a economia portuguesa está numa rota ascendente e que tudo começa a caminhar para o melhor dos mundos, sendo apenas a dúvida se os "louros" se devem às fundações estabelecidas por Passos Coelho ou à magnífica gestão macroeconómica de Costa e Centeno. O que estamos a assistir são blips, semelhantes àquelas mola