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A mostrar mensagens de maio, 2016

Seis meses de quê?

Estou à vontade. Não votei no PaF e nunca concordei com a política económica e financeira do anterior governo, embora reconheça que era necessário começar com uma dose da mesma para "voltar aos mercados", mas não era suficiente para tirar Portugal da estagnação  em que entrou desde o início deste século. No entanto, tenho a ligeira impressão que, por detrás dos sorrisos imbecis que nos aparecem nas Tvs todos os dias a imitar o Dr. Pangloss com a afirmação que está tudo no melhor dos mundos e melhor não poderia estar, estamos a assistir a uma nova desgraça de índole socrática. A economia, já de si frágil, parou com os disparates do governo, e aquilo que não parou dessa forma, parou pela actuação dos sindicatos. O Presidente fala todos os dias de estabilidade, mas está certamente a brincar. Ninguém pode falar de estabilidade, quando um governo faz exactamente o contrário do que o outro fez. Faz voltar tudo ao passado. O passado em que não fomos felizes. E qualquer investid

O porco com asas

Embora o bovino, especificamente a vaca, seja um animal sagrado em algumas religiões, o certo é que a figura tradicional portuguesa, quando se aplicam asa a um mamífero que não seja um anjo (nem um morcego), é a do porco. Haverá decerto uma boa explicação social e até cultural.  O porco, e atente-se logo no nome, é um animal rasteiro, mais próximo do solo do que uma vaca. É praticamente omnívoro, o que significa que come tudo, incluindo restos de alimentos humanos (e até os próprios humanos, segundo parece). Talvez por causa da sua posição mais rasteira, parece rastejar e o seu habitat não é o terreno limpo e mais ou menos verdejante dos bovinos mas o chão sujo.  As pocilgas “naturais” não são modelos de limpeza como o poderão ser as industriais. A criação de porcos doméstica implica a permanência do animal numa mistura de lama e de excrementos. A limpeza do porco, neste caso, só se alcança depois da matança. Considerado néscio, em termos de raciocínio, o porco já teve uma peq

Nota ainda mais curta sobre António Costa

Face ao descalabro anunciado, António Costa veio à televisão. António Costa é bom. Convincente, seguro, risonho. Claramente é o grande activo deste governo. Temístocles Menor

Nota curta sobre Economia

A economia portuguesa nunca recuperou muito bem dos tratos de polé a que foi submetida pela troika, mas agora está claramente a desconjuntar-se e a ir pela ribanceira abaixo (outra vez). E o Presidente da República e Primeiro-ministro assobiam como se não fosse nada com eles; entre o futebol e a inventona do ataque ao ensino privado- que não é ao ensino privado, mas a uma espécie de "amigalhaços" do Estado- vão distraindo a população... Temístocles Menor

Costa & Sócrates, SA, Martins & Sousa, Lda.

José Sócrates precisa de António Costa e António Costa precisa de José Sócrates.  O antigo primeiro-ministro arguido e suspeito de vários crimes precisa da protecção do actual primeiro-ministro. Por ser primeiro-ministro e por ser quem manda no interior do PS. O actual primeiro-ministro precisa de Sócrates pela influência que ele ainda tem dentro do PS, pelo seu carisma de uso interno de “resistente” e, sabe-se lá, se do dinheiro que ele ainda pode ter. Ou o tal Santos Silva por ele. Costa e Sócrates saem do mesmo ventre do PS mas constituíram famílias distintas. Silva Pereira, o ex de Sócrates que agora assessora Costa para o congresso do partido que também parece ter beneficiado dos favores do primeiro em Paris, é o elemento de ligação. O convite feito por Costa a Sócrates para a inauguração de um túnel rodoviário é, bem à vista de toda a gente e numa cerimónia pública, a expressão de um pacto e, obviamente, um gesto de desagravo político: que a justiça o trate bem, podia ter ex

Sócrates, a presunção de inocência e o contraditório.

Acredito que a presunção de inocência num Estado de Direito Democrático engloba dois sentidos. Um sentido estritamente jurídico ligado ao processo penal e à necessidade de o Ministério Público fazer prova cabal daquilo que acusa, e o juiz não poder partir do princípio que a pessoa é culpada, pelo contrário, ter de partir do princípio que a pessoa é inocente.  Mas considero também que o princípio da presunção de inocência entronca no princípio da dignidade da pessoa humana e por isso tem um sentido político e social. E esse sentido, é que qualquer pessoa acusada deve ser tratada com dignidade e respeito em termos sociais e políticos até ser eventualmente condenada. Não deve ser condenada ao ostracismo, como habitualmente acontece. Pelo exposto, vejo com bons olhos e como adequado a um Estado de Direito Democrático o convite que António Costa fez a Sócrates para estar presente na inauguração do Túnel do Marão. Contudo, Sócrates é Sócrates e a posição que assume é de desafio, como

A falsidade da recuperação de rendimentos

Pelo que se percebe o grande argumento dos partidos que suportam o governo é que estão a repor os rendimentos dos trabalhadores, e essa é a justifica acima de tudo da sua atividade. É estranho pois não se percebe que rendimentos estão a repor. É evidente que a resposta óbvia é que retiraram os cortes dos salários da função pública e de algumas pensões. Contudo, isto em termos agregados não é nada.  A função pública e alguns pensionistas não são os trabalhadores, nem de longe nem de perto. Mas a questão não é esta. A questão é que toda a política financeira do governo assenta num aumento dos impostos indiretos. Ora os impostos indiretos não são progressivos, são proporcionais, e nessa medida são aqueles que mais afetam os trabalhadores. Por essa razão já em 1912 os social-democratas alemães se opunham a que o financiamento militar se fizesse à custa impostos indiretos, porque eram os que mais prejudicavam os trabalhadores. E facilmente se percebe que o pensionista ou o funcionári

Se eu fosse Passos Coelho

Se eu fosse Passos Coelho deixava-me estar sossegado à espera da conclusão do desastre que está em curso.  Enquanto, Portugal estiver na U.E. e no Euro a beneficiar das suas vantagens, tem que se adaptar às suas desvantagens. Porque fazer de modo diferente tem como resultado a estagnação e a crise. Claramente, o sinal que Costa deu aos investidores e aos mercados (não gostam deles, mas são eles que emprestam dinheiro para o Estado Social...) foi o de que não os levava a sério. E se ia entreter a desfazer o que Passos Coelho e os alemães tinham laboriosamente construído. A partir daí Costa não vai ver investimento, não vai ver recuperação económica, não vai ver nada. Vai andar a correr de uma crise para outra, de um desmentido de números para outro, e a situação vai-lhe fugindo das mãos. O Presidente da República é um grande inteligente, mas não percebe economia, e a formação católica impede-o de entender os mercados, portanto, não é grande ajuda. Se eu fosse Passos Coelho não

A encruzilhada portuguesa

Não tenho qualquer dúvida que a política económica e financeira seguida desde 2011 está errada, como não tenho qualquer dúvida que a adopção do Euro comportou um peso impossível na economia portuguesa. E também não tenho dúvida que a União Europeia é, como sempre foi, um projecto político entre a Alemanha e a França, apadrinhado pelos Estados Unidos. Tudo isto escrevi em  Helicópteros com Dinheiro - Sair do Euro, da Crise e Mudar o Estado (2013).  Mas sendo esta a realidade, a verdade é que Portugal está dentro da União Europeia, aderiu ao Euro e não quer sair e por consequência submetido ao eixo franco-alemão. Vejo duas perspectivas para se encarar o tema. Uma é de adaptação. Portugal reconhece que desde 1974 perdeu o seu sentido pátrio como nação cosmopolita e diversa, não lhe restando tornar-se mais do que um cantão europeu dentro de um princípio de especialização interna, produzindo aquilo que melhor tem: trabalhadores eficientes para a Europa, trabalhadores baratos para o mer