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A mostrar mensagens de outubro, 2015

É necessária uma alternativa?

O discurso político ficou de tal modo polarizado entre PaFs e Socialistas que a grande questão não é  discutida: É necessária uma alternativa à política seguida nos últimos anos?  É que estranhamente o que vai parecendo das discussões entre Socialistas e demais esquerda é que se procura um programa que não difira assim tanto do PaF. E o mesmo asseverou o Senhor Presidente da República ao falar nas opções estratégicas da democracia que não deveriam ser mudadas. Mas a questão real é essencialmente a necessidade de uma alternativa, não em termos de partidos políticos, mas em termos de orientação política. Nos últimos anos ( e esta expressão envolve os Governos Sócrates e Passos Coelho, pelo menos) a Justiça tornou-se um problema, pela sua instrumentalização política, pela derrogação dos Direitos Fundamentais, pelo início do desmantelamento do Estado de Direito. Este é um primeiro problema que tem que ser confrontado: a diminuição das liberdades individuais e  a manipulação da justi

A liberdade de imprensa constará do acordo secreto?

Miguel Sousa Tavares é jornalista, foi advogado, escreveu alguns romances de êxito e tem dois espaços de opinião com audiência assegurada no “Expresso” e na SIC. É filho de duas figuras ilustres: Sophia de Melo Breyner (poetisa) e Francisco Sousa Tavares (advogado e político) e tem uma relação familiar com o banqueiro Ricardo Salgado. Tavares foi uma das vozes, entre jornalistas, comentadores e articulistas, que apoiou António Costa, o secretário-geral do PS que quer ser primeiro-ministro à viva força. Tavares não gostava de António José Seguro (oriundo da província e que resolveu fixar-se na província) nem de Pedro Passos Coelho (oriundo da província e que resolveu fixar-se numa zona suburbana da capital).  Nem Seguro nem Passos Coelho pertenciam ao pequeno mundo da intelectualidade lisboeta. Como Tavares, Costa também proveio dessa origem, filho do escritor Orlando da Costa e da jornalista Maria Antónia Palla (que não se opôs ao fecho, por José Sócrates, da Caixa da Previdência

O significado das palavras de Sócrates

José Sócrates pode estar inocente, deve ser considerado inocente da prática de qualquer crime até ao trânsito em julgado de qualquer condenação.  No entanto, a inocência da prática de crimes é uma coisa. Fazer de todos parvos,é outra coisa. Disse Sócrates, aplaudido por duzentos fiéis histriónicos, que também aplaudiriam o bezerro de ouro da Bíblia, com o mesmo entusiasmo alucinado, que está a ser perseguido pela Justiça e que esta é politicamente manipulada.  O significado das palavras de Sócrates é que ele sabe do que fala, foi primeiro-ministro e esteve na origem de muitas das leis que agora serão utilizadas para o perseguir.  Se Sócrates acha que a Justiça sai dos limites do Estado de Direito é porque já viu isso acontecer, se Sócrates acha que a Justiça está a ser manipulada é porque já viu isso acontecer. E viu. Enquanto foi primeiro-ministro, uma boa parte da Justiça foi utilizada por ele para perseguir pessoas, fechar universidades, criar o opróbrio naqueles que não tê

Uma questão de dignidade

António Costa, em 4 de Outubro, devia ter agido com dignidade: ou demitindo-se do cargo de secretário-geral do PS ou declarando que o PS, como partido derrotado nas eleições, assumiria no Parlamento o lugar e a função de principal partido da oposição. Depois disto, e só depois disto, é que poderia dar-se, abertamente, aos derriços que até talvez já antes desejasse com o BE e o PCP. Apressando-se a fazê-lo antes de o Parlamento entrar em funções, Costa mostrou (mesmo que por uma eventual pureza de carácter, contra todas as evidências) que a sua tentativa de conúbio com a jovem Catarina e o ancião Jerónimo não visava mais do que chegar ao poder. Não para o PS, ou em nome de uma bizarra “frente popular”, mas para seu próprio e exclusivo proveito.  Ao fazê-lo foi longe demais. Deixou o País à espera da concretização dos seus próprios planos. Andou a ziguezaguear em jogos florais negociais. E não o fez da melhor maneira.  Quando foi ao encontro do Presidente da República com o desa

Vamos às compras?

Há dinheiro. Não se sabe onde, mas há. Ainda bem. Para os funcionários públicos e para as suas famílias, que verão (se é essa uma das bases do extraordinário entendimento entre o PS e o BE, como o “Expresso” anuncia) os seus salários repostos na totalidade em 2016. Calcula-se que os reformados também serão abrangidos. E que a sobretaxa do IRS também será devolvida na íntegra e não gradualmente. E, já agora, que o sector da restauração terá descida do IVA (e por que raio é que hão de ser só eles a terem de entregar menos IVA ao Estado?!). A seguir na lista devem estar as empresas de construção civil, sobretudo as amigas do PS, a receber mais obras públicas. Deve ser isto a essência do entendimento entre o PS e a extrema-esquerda do BE e do PCP. Porque o essencial é o dinheiro. Que vai impedir os protestos dos trabalhadores da função pública e das autarquias e de tudo quanto depende do Estado, dos professores aos guardas prisionais. E – atenção: promessas! – dos “lesados do BES/GE

Sócrates: Justiça e Política

Não tenho qualquer dúvida que o processo Sócrates teve um aspecto político, que ia além da eventual culpa e inocência do mesmo. Escrevi-o no meu livro  Juízes: o novo poder .  Quando vejo o timing que este processo tem tido e as intervenções de cada juiz, vejo ainda de forma mais clara, demasiadas coincidências. Sócrates foi preso na véspera do Congresso do PS que ia entronizar Costa. Decisões sobre Sócrates foram tomadas sempre perto de momentos mediáticos do PS de Costa e acima de tudo, Sócrates foi libertado depois das eleições legislativas, tendo o M.P. esticado o máximo essa libertação para depois de 4 de Outubro. Por outro lado, Rangel é, e sempre foi próximo do PS e de Sócrates. Há uma pergunta que se coloca: o que aconteceria ou acontecerá judicialmente a Sócrates se Costa for primeiro-ministro.  É evidente que a política e a justiça estão misturadas e que muitos (não todos) magistrados estão permeáveis a essas influências. Não vale a pena pensar o contrário. Rui Ve

"Se cá nevasse fazia-se cá ski"

Esta frase, tipo verdade de La Palisse, tinha um sabor especial: se o leitor a pronunciasse depressa, até parecia estar a falar russo. A associação de ideias implicava a vastidão dos desertos gelados e a neve e, se cá nevasse, fazia-se cá ski. É como o título do "Público" de hoje: "Passos conta ser indigitado mas não tem essa garantia". É um título jornalístico tão inteligente como poderia ser este: "O Benfica conta ganhar o jogo mas não tem essa garantia". Ou como este: "Se os animais falassem, também faziam jornalismo. Costa Cardoso

A Frente Popular-1936 e 2015.

Ao contrário de muitos amigos e antigos alunos que falam na televisão, não vejo qualquer incongruência legal ou de legitimidade na formação de um governo de esquerda.  Posso discordar dele politicamente, mas aceito a sua possibilidade face à Constituição e à Lei.  Aliás, a Constituição portuguesa ao recusar o princípio anglo-saxónico que considera o vencedor o"first-past-the-post", recusou qualquer ideia de que aquele que vence com maioria relativa é quem ganha, pelo contrário, no sistema português quem ganha é quem consegue formar uma maioria absoluta ou ter um governo não rejeitado. O resto é irrelevante. Se o PS fizer o tal governo de esquerda vai-se assemelhar à Frente Popular francesa de 1936, uma experiência nova na altura. A Frente Popular foi uma coligação de partidos de esquerda que governou a França de 1936 a 1938. Esta coligação reunia os três principais partidos de esquerda, a SFIO, o Partido Socialista Radical e o Partido Comunista (que apoiou sem partic

A posição de Sócrates

A posição de Sócrates é importante nesta história da criação da Frente Popular (PS+BE+PCP), repetindo os antigos anos 30 de Léon Blum. Um francês, que naturalmente, deve inspirar Sócrates. Tal tem sido omitido pela imprensa. Mas é claro, depois de uma hesitação de 24 horas, Sócrates apoia a criação da Frente Popular (ver Blog Câmara Corporativa- órgão oficioso de Sócrates ou as declarações de Augusto Santos Silva- idem). Esta notícia tem que ser transmitida. Temístocles Menor

Do putanato como uma das belas-artes

As eleições da semana passada não trouxeram apenas a originalidade de o partido perdedor se querer armar em ganhador mas também uma nova forma de putanato. Foi, quase ao mesmo tempo, o derrotado secretário-geral do partido perdedor, o PS, a andar a oferecer-se (e ao seu partido) a quem mais der (até à excrescência que é o PEV!...) e o inexistente Livre a pedir publicamente que o ponham por conta, pagando-lhe as dívidas contraídas na campanha eleitoral. É tão ridícula uma situação como a outra. É o secretário-geral do PS (o partido derrotado, é certo, mas que já foi governo) que se desloca de porta em porta a oferecer-se. E é por outro lado o partido defensor do não pagamento dos empréstimos a Portugal a reconhecer que afinal as dívidas são para pagar. (E, já agora, porque é que não fazem um calendário com o seu pessoal nu para angariar fundos? Uma das suas dirigentes já o fez por duas vezes, para angariar votos.) Pedro Garcia Rosado

O lento declínio da Fundação Gulbenkian

Só conheci Azeredo Perdigão em idade avançada e assisti aos últimos anos da sua degradação física e intelectual com pesar, mas sempre fiquei com a impressão que era aquilo a que se chama "Um grande homem". A realidade é que sendo um advogado prestigiado, embora não conotado com o regime de Salazar, pelo contrário, construiu a Fundação Gulbenkian dentro desse regime, com independência e valentia, e soube simultaneamente resistir aos ingleses que salivavam perante a fortuna legada de Gulbenkian. Criou uma instituição de que Portugal se orgulhou, a que deu um rumo autónomo e criou como símbolo de qualidade. Entretanto, com a sua morte, a Gulbenkian tem vindo a perder a sua vitalidade e independência, tornando-se um receptáculo das maiores ou menores nulidades do regime, que procuram um lugar para descansar, não desenvolvendo um actividade tão meritória como no passado. Serviços de qualidade foram extintos e a Gulbenkian tornou-se uma mera distribuidora de prebendas e envelo

O PS no labirinto de Costa

1. António Costa (com o seu PS) vai encontrar-se com o PCP e com o BE. É um encontro de cortesia? Ou é para concertar um governo? É para tomar chá, gin (BE) ou moscatel (PCP)? Vai pedir desculpa à jovem Catarina e ao ancião Jerónimo por os ter criticado na campanha eleitoral? Vai perguntar-lhes quanto é que querem para abandonar ideias absurdas como a saída de Portugal do euro e da NATO? Ou vai querer saber como é que eles o vão fazer, para melhor se adaptar? 2. António Costa foi convidado por Pedro Passos Coelho para uma reunião. Presume-se que vai. Mas só depois do equivalente político de uma “blind date” com a extrema-esquerda. E vai para negociar? E o quê? Governo a três? Abstenções como regra? Acordos pontuais?  3. António Costa (em consequência do ritmo erróneo que impôs ao seu PS) foi o alvo principal do ultimato (correcto e certeiro) do Presidente da República anteontem: é preciso unir em torno de uma solução de governo os principais partidos que defendem a integração euro

A retrete comum de Sócrates e Varoufakis

Primeiro vemos uma retrete hiante. Depois Sócrates e ainda Varoufakis. Quase de imediato aparecem representações estilizadas de insectos monstruosos. E por cima - da retrete, do ex-primeiro-ministro português e do ex-ministro das Finanças da Grécia - aparece uma onda esbranquiçada... que é um detergente. Esta animação aparece no "Diário de Notícias" de hoje na sua edição on line, quando a abrimos. É uma metáfora realmente brilhante... Costa Cardoso

Costa e Sócrates ou a razão da derrota do PS

Têm-se sucedido as análises sobre a derrota do PS.  De facto, olhando para os resultados finais vê-se que não foi exactamente o PaF que ganhou. No fim de contas 38,5% não é uma vitória estrondosa, e se dividirmos entre PSD e CDS deve dar uns 29% para o PSD e uns 9% para o CDS, nada de especial. Embora, acabe por ser especial porque quase todos achavam que o PaF ia ser inapelavelmente derrotado. Mas objectivamente vê-se que foi o PS que sofreu uma estrondosa derrota. Deve haver muitas explicações para essa derrota e os saltimbancos do costume já peroram. No entanto, creio que a razão é só uma e chama-se Sócrates. A população percebeu que foi Sócrates que levou o país para o abismo. A população percebeu que há algo de tenebroso em Sócrates. E o PS fingiu , por um lado, que Sócrates era um génio político afastado pela perfídia de Passos Coelho e Cavaco Silva, e por outro fingiu que agora não existia, não estava preso ali ao lado.  Contudo, não foram as atitudes de Sócrates qu

Oito evidências

1 - As empresas de sondagens ganharam e acertarem nas tendências do eleitorado. 2 - António Costa caiu na consideração da imprensa, que passou a recordar sempre o que ele fez a António José Seguro que, se regressar, passará a ser o novo "golden boy" dos jornalistas. 3 - O "jornalismo de causas" ainda teve expressão na manchete do "Público", que resolveu ignorar os factos e expressar a sua opinião: "Solução de governo instável". Calcula-se que, com a extrema-esquerda, já haveria para o "Público" um governo "estável". 4 - As figuras pitorescas como Marinho e Pinto e Rui Tavares e as suas excentricidades PDR e Livre andaram a ser muito acarinhados pela imprensa mas o resultado obtido foi demasiado mau para as expectativas. Talvez o eleitorado os tenha visto como oportunistas e não como os redentores que eles próprios se imaginavam. 5 - O deputado ganho pelo PAN sugere que existe um segmento de eleitorado mais ate

“PS vai ganhar porque o povo não é estúpido”

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Esta frase é de Correia de Campos, antigo ministro da Saúde e mandatário de António Costa nestas eleições, e apareceu na primeira página do jornal “i”.  Portanto, e perante os resultados destas eleições, o povo português foi estúpido porque: (a) deu a vitória à coligação formada pelo PSD e pelo CDS, cujo governo sobreviveu a quatro anos extremamente difíceis; (b) preferiu o rumo da estabilidade e recusou a aventura com que acenaram o PS, o BE e o PCP; (c) disse ao PSD e ao CSD e também a uma vertente do PS que deviam entender-se; (d) relegou para um segundo lugar pouco honroso um PS desnorteado chefiado por um homem igualmente desnorteado; (e) não ligou aos apelos radicalistas do PCP e do BE, preferindo um palminho de cara ao “facies” sorumbático de um ancião sempre zangado; (f) ignorou os pequenos partidos unipessoais. É possível que os que consideram estúpido o povo que vota porque não vota neles queiram fazer qualquer tipo de golpe de Estado no Parla

A liberdade individual e o voto de 4 de Outubro

Rui Verde O estranho nesta campanha eleitoral que hoje termina é que não se discutiram modelos de sociedade, valores ou futuro. Não é que as campanhas tenham que ser debates filosóficos ou académicos. Basicamente, as pessoas têm interesse em saber como vão comer, o que vão ganhar, como vão comprar casa, e alguns mais aventureiros como vão pagar as férias à República Dominicana. Mas a verdade é que cada governo implementa consciente ou inconscientemente um modelo político- ideológico do qual mais cedo ou mais tarde resultará a sociedade em que as pessoas vivem. Não foi indiferente viver na União Soviética ou nos EUA nos anos 1980, como hoje em Inglaterra não será indiferente se Cameron for o primeiro- ministro ou Corbyn. O que se tem assistido nos últimos anos em Portugal ( e incluo os anos de Sócrates) foi uma diminuição drástica da liberdade individual. E isto é perigoso e tem que ser chamado à colação. O processo penal deixou de o ser, e tornou-se em processo inquisi

O teste das sondagens e o teste do jornalismo

A publicação de sondagens diárias durante este período de campanha eleitoral (na RTP, TVI, CMTV, TSF, “Público” e “Correio da Manhã”) é um facto inédito e relevante.  As sondagens introduziram uma dinâmica na campanha que a arrancou, em termos noticiosos, às sempre festivas “reportagens” das arruadas e dos jantares e dos comícios. É, no entanto, pouco provável que, no caso da imprensa escrita abrangida, o custo das sondagens não tenha sido compensado por mais vendas, não apenas por elas aparecerem nas televisões na véspera mas por circularem num ápice na internet.  Há um elemento sugestivo nestas sondagens: a manutenção, já ao longo de dez dias, dos mesmíssimos indicadores. E são eles, com variações de percentagem: a coligação Portugal à Frente em primeiro lugar, o PS em segundo, o PCP em terceiro e o BE em quarto. Poder-se-á, em consciência, pensar numa manipulação da opinião pública? Por parte de quatro empresas diferentes?  Não, mas continuam a existir cretinos (mesmo partida