O teste das sondagens e o teste do jornalismo

A publicação de sondagens diárias durante este período de campanha eleitoral (na RTP, TVI, CMTV, TSF, “Público” e “Correio da Manhã”) é um facto inédito e relevante. 
As sondagens introduziram uma dinâmica na campanha que a arrancou, em termos noticiosos, às sempre festivas “reportagens” das arruadas e dos jantares e dos comícios. É, no entanto, pouco provável que, no caso da imprensa escrita abrangida, o custo das sondagens não tenha sido compensado por mais vendas, não apenas por elas aparecerem nas televisões na véspera mas por circularem num ápice na internet. 
Há um elemento sugestivo nestas sondagens: a manutenção, já ao longo de dez dias, dos mesmíssimos indicadores. E são eles, com variações de percentagem: a coligação Portugal à Frente em primeiro lugar, o PS em segundo, o PCP em terceiro e o BE em quarto. Poder-se-á, em consciência, pensar numa manipulação da opinião pública? Por parte de quatro empresas diferentes? 
Não, mas continuam a existir cretinos (mesmo partidariamente enquadrados) que continuam a afirmar que “As sondagens são pagas e feitas para condicionar o voto!”. Significativamente, porém, é uma sondagem de uma quinta empresa (dirigida por uma destacada personalidade do PS que já foi dirigente nacional da UGT, Rui Oliveira e Costa, no “Expresso”) que dá o PS... em primeiro lugar. 
A experiência das sondagens diárias será sujeita a um teste decisivo no dia 4. Se estas sondagens falharem, se for o PS a ganhar, o que se poderá pensar, em termos técnicos e profissionais, de quem andou durante dez dias a sugerir o contrário? 
Mas também há um outro teste decisivo nisto tudo: o do jornalismo português. Durante quatro anos, as televisões (por causa do espectáculo?) deram-nos retratos quase permanentes de manifestantes a gritar contra o Governo, de funcionários públicos em greve, de manifestações de protesto, de casos sociais dados como desesperados, de um país à beira do abismo de uma revolução social... quase sangrenta.
E se o resultado das eleições de 4 de Outubro confirmar os resultados das sondagens e nos mostrar que o país é outro e que não era quem mais gritava que estava em condições de influenciar o voto? O que dirão, camaradas jornalistas?

Costa Cardoso

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