PCP: reforma ou revolução? (2)

“A perspetiva esboçada é reformista e choca-se com o marxismo-leninismo, ideologia assumida pelo PCP. A nossa época não se assemelha à dos anos em que Marx e Lenin – em contextos históricos aliás diferentes – sem rejeitar a luta por reformas, iluminaram o fosso intransponível que separa o reformismo da atitude revolucionária.
O marxismo não é estático. A grandeza do leninismo é identificável precisamente pela capacidade de Lenin para inovar como estratego e tático, mantendo uma fidelidade intransigente a princípios, valores e lições do marxismo. Não encontrei essa atitude nas páginas da Resolução [proposta para o XX Congresso, a realizar] dedicadas à política patriótica e de esquerda na luta pelo socialismo.”
Quem isto escreveu chama-se Miguel Urbano Rodrigues. Foi, e calculo que ainda seja, jornalista. É militante comunista há mais de 50 anos. Foi fundador e director do matutino “o diário” (que o PCP manteve). Ideologicamente, é ortodoxo. Rigidamente ortodoxo, como demonstrou ao dirigir “o diário” e em tudo o que escreveu. E ainda escreve. 
O autor termina este texto com a seguinte afirmação: “Milito no PCP há mais de meio século. Foram as lutas em que participei como comunista que conferiram significado à minha passagem pela vida. É nessa condição que termino desejando que o XX Congresso possa apontar ao Partido o rumo que Álvaro Cunhal tão exemplarmente contribuiu para lhe imprimir na fidelidade à tradição revolucionária da sua gloriosa história.”
Este texto de Miguel Urbano Rodrigues foi publicado no “Avante!” de 27 de Outubro, numa secção intitulada “Tribuna do Congresso”, onde os militantes se podem expressar livremente no âmbito da preparação do XX Congresso (marcado para o próximo mês).
O que aqui escreveu Miguel Urbano Rodrigues tem um duplo significado: é a expressão da sua opinião individual mas também a expressão do que outros pensam. Até porque Miguel Urbano Rodrigues nunca escreveria estas palavras se não houvesse mais gente a pensar o mesmo. Por muito voluntarioso que seja, conhece perfeitamente as regras escritas e não escritas do PCP e não daria voz, de modo tão claro, a uma posição crítica que não soubesse ser acompanhada por outros.

Amanhã: Jerónimo de Sousa, o secretário-geral eurocomunista 

Pedro Garcia Rosado

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