Os abafadores

Portugal tem andado entretido há uns meses a esta parte com acontecimentos muito interessantes, mas que não passam de colunas de fumo. É a vitória no Campeonato Europeu de Futebol, a derrota nos Jogos Olímpicos, a WebSummit, as simpatias e afectos do Presidente da República, e as trapalhices de Governo com a CGD.
Apenas esta última questão tem realmente interesse, mas tem sido apresentada sob a forma de fait divers e não indo ao núcleo da questão, que são as operações bárbaras realizadas pelo bloco central de interesses que pelos vistos levaram este banco à quase falência. E também qual a justificação de se ter um banco público, quando se quer dotá-lo de uma gestão e estratégia estritamente privada?

A realidade é que com a conivência da imprensa institucional as questões centrais estão a ser abafadas.
Uma nota para o papel acrítico da imprensa, que mais do que o quarto poder de que falava J.J. Servan Schreiber, se tornou um apêndice do poder executivo, transformando-se, como diria Gramsci, num instrumento hegemónico da pequeno-burguesia dominante.

Duas pessoas são relevantes e vão ao núcleo da questão: Ricardo Salgado e José Sócrates. De certa maneira, bem ou mal, os processos relativos a estes homens representaram uma reviravolta do regime e uma tentativa de corrigir o ambiente de corrupção sofisticada em que Portugal tinha caído e se tornou um dos principais obstáculos ao desenvolvimento. Os processos seguiram com alguma normalidade (tanto quanto é possível ter normalidade no sistema judicial) até à queda de Passos Coelho.
A ascensão de Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa marcaram o abafamento destes processos. Nada se passa, nem iniciativas judiciais, nem acusações, nem nada. Um manto de abafamento desceu sobre Sócrates e Salgado, não sendo impensável indagar-se se não está em curso uma inenarrável operação de branqueamento destes personagens e dos seus processos?
Fica a questão. 

Rui Verde

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