0,8%. A relevância do ping

Trompetas anunciaram os estrondosos resultados positivos da economia portuguesa no trimestre de Verão de 2016. Parece que esta cresceu 0,8% e já é a melhor da Europa. 
Costa sorriu como um gato rechonchudo (mas isso é o que faz desde há um ano), Centeno reapareceu como mago das Finanças (depois de andar escondido por causa da borrada que fez, deixou fazer, ou assumiu que fez sem ter feito, na CGD), e Marcelo foi a Londres bem-dizer a Pátria (não percebi muito bem porque Marcelo, Presidente da República, foi recebido pela Primeira-ministra e não pela Rainha, mas se calhar é hoje recebido por Sua Majestade. E a verdade é que Marcelo está a reforçar o presidencialismo do regime, adoptando uma postura de Presidente mais à francesa. É giro de se ver, embora não se saiba onde acaba).
Sobre Passos Coelho...só faltou mandarem-no para o canto da sala de aula e colocarem-lhe umas orelhas de burro.
Há que recordar os factos, que andam todos com a memória demasiado curta. Em 2011, o país estava à beira da falência. Como se sabe, os impostos não cobrem as despesas do Estado e todos os anos é necessário pedir dinheiro emprestado. Ora em 2011, já ninguém nos queria emprestar, e nós íamos ficar sem dinheiro para pagar salários, pensões, etc. Veio Passos Coelho e a Troika. Aplicaram a receita da austeridade que devia ser complementada pela reforma do Estado. A austeridade permitiu re-equilibrar as finanças. Como única política estava errada, pois devia ter sido acompanhada pelo estímulo à economia. A austeridade é um início, um travão, mas não um fim. E também devia ter sido acompanhada pela reforma do Estado. Não foi. Contudo, apesar dos erros de política económica, Passos conseguiu o essencial, voltar aos mercados. Perdeu as eleições para uma nova maioria. Veio Costa e o seu Centeno de Harvard. A sua política foi essencialmente voltar ao passado e estimular a economia através da distribuição de dinheiro às famílias (aquilo a que se chamou "reposição de rendimentos). Esta reposição criou uma ilusão de monetária de mais dinheiro (na realidade, o rendimento disponível das famílias não deve ter aumentado assim tanto uma vez que acaba por ser sub-repticiamente retirado através dos impostos indirectos). Talvez esta reposição explique um pouco o ping de Agosto. Parece que a outra explicação é o turismo. Aqui Costa tem que "agradecer" aos terroristas que tornaram a bacia do Mediterrâneo insegura. Antigos destinos turísticos como Tunísia, Turquia ou Egipto viram as suas estâncias desertas. O problema colocar-se-á quando o turismo voltar a essas paragens. O recente apoio do FMI ao Egipto e a desvalorização da moeda egípica pode ter um efeito no PIB português maior do que qualquer discurso político-económico em Portugal. Uma segunda realidade que contribuiu para o PIB português foram os voos low-cost que trazem turistas a € 20,00 de avião. Portanto, o boom do turismo deve-se essencialmente ao sector privado e a factores externos como o terrorismo e as low-cost. A virtude portuguesa tem sido a de saber aproveitar. E isso é bom.
Contudo, este ping de Agosto não prova nada em relação aos fundamentals da economia portuguesa. São precisos mais dois ou três trimestres para se perceber se a economia está numa rota de recuperação sustentável. E se os consumidores estão efectivamente com mais dinheiro.
É demasiado cedo para descartar Passos Coelho.Este errou em termos de política económica, mas não errou no diagnóstico da situação nem em perceber que a economia portuguesa precisa de uma abanão muito forte. E esse abanão não sucedeu ainda. Portanto, vamos ver se a seguir ao ping, não vem o pong.

Rui Verde

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