PCP: reforma ou revolução? (3)

Há cerca de um ano, era dada como certa a substituição de Jerónimo de Sousa no cargo de secretário-geral do PCP, devido à sua idade avançada e à necessidade de renovar a direcção partidária com quadros mais jovens.
A certa altura começou a circular que Jerónimo de Sousa, sempre muito activo como deputado e com menos tempos para se ocupar do partido, iria ter um secretário-geral adjunto, que seria o seu sucessor. 
De repente, porém, as notícias desapareceram e Jerónimo de Sousa voltou a aparecer como secretário-geral incontestado, quase em paralelo com a aliança informal estabelecida com o PS e com o BE. 
O maior envolvimento do PCP no apoio ao governo do PS e o fim da agitação sindical só porque os trabalhadores da função pública e das empresas públicas recuperaram alguns benefícios, foi acompanhado, entretanto, por rumores que davam conta de que alguns sectores partidários estariam crescentemente críticos das posições do actual secretário-geral.
A questão é, por um lado, a conversão do PCP a uma orientação reformista (e a adopção do “eurocomunismo”, tantos anos depois) e, por outro, as cedências da direcção de Jerónimo de Sousa ao adversário que sempre foi o PS e ao rival que é o BE. 
Em termos práticos, e considerando as eleições, o PCP serve apenas para ajudar a “segurar” o PS e já não se distingue dos “pequeno-burgueses de fachada socialista” do BE. Não é um rumo à vitória… mas à irrelevância. É curto para este partido.
Miguel Urbano Rodrigues, que invocou Lenine, Cunhal e a sua própria militância de 50 anos, não é uma voz isolada. Mas as outras, de quem pensa o mesmo, estão silenciadas pela disciplina partidária. Ao contrário do que aconteceu com os “críticos” que começaram a sair nos anos 80 (de Zita Seabra a João Semedo, passando por Vital Moreira, Pina Moura ou António Teodoro, por exemplo), este novos “críticos” não parecem procurar a imprensa para amplificar as suas afirmações e a imprensa, em geral, já não sai da sua zona de conforto para ir à procura de fontes de informação que não estejam já na agenda dos seus telemóveis. Daí, já agora, o silêncio da própria imprensa.
É natural que esta posição de Miguel Urbano Rodrigues não seja publicamente secundada (embora vá ser invectivada na “Tribuna do Congresso”), tal como é natural que os revolucionários não entrem em conflito com os “reformistas” de Jerónimo de Sousa. O próprio XX Congresso não irá espelhar as divergências. E Jerónimo de Sousa continua a controlar a direcção. 
Mas, por mais silenciosas que elas são, o certo é que as divergências existem. Acredito que haverá novos “sinais”, mais cedo ou mais tarde.

Pedro Garcia Rosado


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