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A mostrar mensagens de junho, 2016

Oportunismo (de direita)

A participação indirecta do BE e do PCP no actual governo do PS é, desde o primeiro momento, estranha.  Não se vêem, ao cabo de seis meses desta experiência política, resultados que possam ir no sentido do que, pelo menos teoricamente, defendem aqueles dois partidos.  Não se percebe como é que se pode dizer que acabou a austeridade quando as restrições económicas atingem a maioria da população, a começar pelo brutal aumento do imposto sobre os produtos petrolíferos. E nem se pode dizer que a função pública também se viu livre da austeridade porque os seus salários não melhoraram substancialmente. Ao contrário do que este fim de semana e hoje, segunda-feira, disseram os dirigentes dos dois partidos (numa espécie de competição ciumenta), o apoio do BE e do PCP ao PS serviu para uma única coisa: pôr os dois partidos no “arco da governação”, o que se torna especialmente aliciante para o BE e embaraçoso para o PCP.  O BE e os seus dirigentes e quadros querem sentar-se “à mesa do or

Brexit: as dúvidas

O Brexit não pode ter sido uma surpresa. Desde os tempos de Margareth Thatcher que existia um profundo desconforto em Inglaterra com a permanência na União Europeia.Thatcher foi-se tornando euro-céptica. O partido Conservador viveu eternamente dividido. Já lá vão 20 anos. Os trabalhistas também tinham as suas dúvidas. Blair foi impedido de aderir ao Euro pelo seu chanceler Gordon Brown. E bastava ler os jornais mais populares ingleses, e muita da produção académica inglesa para se perceber que havia uma real cepticismo face à forma que a U.E. estava a tomar. Nessa medida,não existe qualquer crítica a fazer a Cameron por ter convocado o referendo.Era seu dever devolver a palavra ao povo. Sabe-se que os fundadores da CEE sempre tiveram medo que a ideia não fosse bem aceite pelo povo, sobretudo depois do fiasco da criação da Comunidade Europeia de Defesa em França nos anos 50, e por isso procuraram fazer uma construção paulatina em temas em que não fosse chamada a atenção das populaçõe

Brincar ao Bloco de Esquerda

Primeiro, o elogio. O Bloco de Esquerda é o único partido português que tem uma posição clara, frontal e corajosa face a Angola e aos 15+2. Por isso, as suas posições têm que ser levadas a sério. E é sobre a seriedade dessas posições que começam a surgir fissuras na pureza e coerência deste grupo. Uma posição de que foi feito amplo eco durante o recente Congresso foi a defesa da saída do Euro. Francisco Louçã disse: “o euro não tem salvação”; “Sim, o euro é destruidor de Portugal”; “Quanto mais no agarrarmos a essa âncora que nos arrasta para o fundo, mais impossível se torna salvar o sistema bancário, garantir a confiança dos depósitos ou ter uma estrutura política em que possamos decidir sobre o orçamento. Portanto é uma situação de humilhação nacional e de destruição política.” José Manuel Pureza afirmou: "“Votaria sim para Portugal sair do euro”. Até se concordo com estas posições. Contudo, não se percebe como um partido que as defende, apoia um governo cujo principal

Praise

Não é normal um povo decidir sem medo o seu futuro, contra todas as expectativas ( e ameaças). Inglaterra fez isso pela segunda vez em menos de 100 anos. Primeiro, quando Churchill decidiu confrontar sozinho as hordas nazis. Agora, quando a maioria do povo decidiu sair da U.E., sabendo que tal pode levar à desagregação do Reino Unido. Mas a razão é essencialmente a mesma: o domínio germânico da Europa Continental. Naquele tempo, como agora, a questão que se coloca é o papel que a Inglaterra pode e deve ter face à supremacia teutónica. Mais uma vez escolheram o confronto, em vez do consenso e do apaziguamento. Por isso, apesar de todos os seus defeitos, temos que admirar a estamina e coragem do povo britânico. E também a dignidade e frontalidade do primeiro-ministro britânico que deu uma lição de democracia aos palradores continentais. (Compare-se com as tristes figuras que os nossos dirigentes fazem). Portugal tem uma lição a tomar deste referendo. O povo tem que tomar nas suas mãos

Errâncias

Os Antigos Gregos homenageavam os seus heróis olímpicos, a quem dedicavam admiração. Prova disso são as famosas Odes de Píndaro. Por isso, poder-se-á perguntar se os actuais futebolistas serão os heróis gregos da modernidade. Pessoalmente, tenho dúvidas, mas o certo é que inflamam multidões e criam uma dependência multitudinária incessante. Talvez constituam as novas elites que o Presidente da República quer criar, depois de ter causticado as velhas elites ( a que curiosamente sempre pertenceu, quer no antigo regime, quer agora...o que não deixa de ser irónico, mas enfim...). A propósito de velhas elites, é demasiado suspeito o silêncio que envolve as investigações a Ricardo Salgado e José Sócrates. Quem estuda um bocadinho percebe que há uma ligação intrínseca e profunda entre estes dois personagens, o enriquecimento deles e doutros, e o descalabro de Portugal, e no entanto, na realidade o que assistimos é uma investigação às "festinhas", com medo de algo. E Angola, e Bra

Sair ou ficar? A União Europeia, o Reino Unido e Portugal.

A União Europeia foi uma forma que vários países encontraram para resolver o problema alemão após a Segunda Guerra Mundial. A Alemanha é demasiado grande e poderosa para estar no centro da Europa sem fazer estragos.Os EUA e a Inglaterra, fartos de ver a Alemanha a devastar a Europa com as suas guerras, mas sabendo que não podiam reduzir o país a um território pastoril (como queria o Secretário do Tesouro norte-americano Morgenthau) devido à Guerra Fria, congeminaram uma comunidade de Estados que ancorasse a Alemanha no Bloco Ocidental, mas a colocasse debaixo de controlo, designadamente francês. Os franceses conduziriam a política da Europa Continental, enquanto a Alemanha se fortalecia para enfrentar os Soviéticos, sem perturbar os restantes países. E a realidade, é que com várias vicissitudes históricas, o modelo funcionou razoavelmente bem durante quase 50 anos. A Europa Ocidental foi um espaço de prosperidade e paz, e a Alemanha desempenhou com perfeição o seu papel de locomotiv

Crónicas de Sete Rios: a triste brincadeira das 35 horas

O ideal era trabalhar 20 horas por semana, e consagrar o direito à preguiça na Constituição.  Enquanto tal não acontece temos que viver com a realidade. A realidade é que a função pública está a levar cortes há anos. O pessoal diminui. A experiência do pessoal diminuiu,e (talvez tirando o Fisco, que se tornou numa Polícia Secreta Política) os vários departamentos da função pública estão a funcionar mal. Falo de casos concretos: um atendimento no SEF está a demorar muitas vezes mais de 6 meses, tornando muitas vezes os estrangeiros que querem viver em Portugal, entes ilegais sem direitos. O ACT de Sintra está com atrasos superiores a 2 meses, não dando vazão às variadas necessidades dos trabalhadores. No Hospital de Santa Maria há sempre falta de pessoal. As descrições dos doentes assemelham-se muitas vezes a um Inferno de Dante. E mais casos poderia mencionar. Mas só estes exemplos permitem concluir que ou a função pública está mal gerida, ou tem falta de pessoal, ou os fu

A “esquerda” fugiu? Ou pintou a cara de preto?

Há qualquer coisa de bizarro no modo como alguns sectores da opinião publicada e parte grossa da imprensa nacional deixam passar decisões e posturas governamentais que têm o apoio do BE e do PCP que, se fossem oriundas do governo anterior, já teriam dado origem a grandes e médios protestos. É a discriminação do sector privado no pequeno luxo das 35 horas para os funcionários públicos; são as medidas eleitoralistas e sectoriais voltadas expressamente para empresários (a redução do IVA na restauração, o gasóleo mais barato para as empresa de transportes); é a contratação de 18 ou 19 administradores (todos amigos e “clientes” do PS) para a deficitária Caixa Geral de Depósitos, onde os salários podem subir à vontade e nós vamos todos ter de pagar a respectiva recapitalização; são as demissões à força no aparelho de Estado para serem nomeados elementos do PS; é a cedência à aristocracia operária dos estivadores e dos trabalhadores dos transportes públicos. É toda uma série de decisões po

Crónicas de Sete Rios. Teresa Beleza, Varela de Matos, Barrigas de Aluguer e Liberdade de Expressão.

Varela de Matos, candidato a Bastonário da Ordem dos Advogados escreveu um post no seu FB onde aplaude o veto do Presidente da República à chamada Lei das Barrigas de Aluguer e zurze "O microscópico,tentacular e insaciável loby lésbico, acaba de sofrer a sua primeira derrota."(citei). A professora Teresa Beleza responde-lhe dizendo, entre outros, "Mas, se me permite, dada a proibição constitucional de discriminação baseada na orientação sexual, um Advogado - e, se bem percebi, candidato a Bastonário - talvez devesse ser mais comedido na linguagem que utiliza nestas discussões." (citei). A discussão é interessante por demonstrar as pulsões proibitivas e censuradoras da liberdade, sobretudo de expressão que existem em Portugal. Pessoalmente, não concordo com o veto do Presidente da República, nem com a posição de Varela de Matos. A barriga de aluguer deve ser uma possibilidade dentro da liberdade e capacidade humanas, dependendo da livre formação da vontade de

Crónicas de Sete Rios: A privatização da CGD?!

Não se pode começar este artigo com o argumento habitual a propósito da privatização de uma empresa, dizendo que os privados gerem melhor. No caso da banca parece que o mal é geral. Dos factos até agora conhecidos, parece que só os estrangeiros geriram bem os bancos portugueses... Mas pode-se questionar quais foram as vantagens para o Estado e o chamado interesse nacional de ter a CGD como banco público. É que não se vê que a CGD tenha financiado a economia mais de que os outros...Da minha experiência, a CGD até é um banco mais fechado e tecnologicamente atrasado do que qualquer dos outros.. Mais, parece que a CGD se estatelou e precisa constantemente de capital devido aos desmandos dos governos e de alguns administradores na sua gestão para amigos. Não vou dizer que todos os problemas da CGD derivam da gestão Sócrates/Vara. Mas digo que estes elevaram a utilização da CGD como banco dos amigos para desenvolver certas políticas a patamares desconhecidos. Também não vou falar das

Crónicas de Sete Rios. Marcelo e Paulo. Início e fim.

Farão por estes dias três meses de mandato presidencial de Marcelo Rebelo de Sousa. Com o devido respeito, até ao momento, foi um mandato de conversa fiada e primeiras páginas do Expresso. Marcelo disse, redisse e desdisse. Parece que o mantra é o consenso. Mas consenso de quê? Há três questões com que Portugal se depara: -Como estar na União Europeia? -Como viver com o Euro? -Como ter investimento para desenvolver a economia? Apenas a resposta a estas perguntas permitirá sair do emaranhado estagnante em que estamos.E nenhuma das respostas é de consenso.Traçar um novo rumo é sempre dissenso, E é de novo rumo que Portugal precisa. Não de saber que Marcelo vai falar com Merkel sobre bancos ou barrigas de aluguer. Quanto a Paulo Portas, parece que se despediu com emoção da Assembleia da República. Inteligente, fino e vivo, Portas prometeu muito e deu pouco como estadista.Não há dúvida que teve piada enquanto dirigente do Independente (esse deve ter sido o seu melhor momento). N