A “esquerda” fugiu? Ou pintou a cara de preto?

Há qualquer coisa de bizarro no modo como alguns sectores da opinião publicada e parte grossa da imprensa nacional deixam passar decisões e posturas governamentais que têm o apoio do BE e do PCP que, se fossem oriundas do governo anterior, já teriam dado origem a grandes e médios protestos.
É a discriminação do sector privado no pequeno luxo das 35 horas para os funcionários públicos; são as medidas eleitoralistas e sectoriais voltadas expressamente para empresários (a redução do IVA na restauração, o gasóleo mais barato para as empresa de transportes); é a contratação de 18 ou 19 administradores (todos amigos e “clientes” do PS) para a deficitária Caixa Geral de Depósitos, onde os salários podem subir à vontade e nós vamos todos ter de pagar a respectiva recapitalização; são as demissões à força no aparelho de Estado para serem nomeados elementos do PS; é a cedência à aristocracia operária dos estivadores e dos trabalhadores dos transportes públicos. É toda uma série de decisões políticas, financeiras e económicas que, numa simples lógica de prostituição, visam comprar votos para o PS.
Se estas decisões, ou outras decisões que também têm sido tomadas, saíssem do governo de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, não faltariam as manifestações, os protestos, os insultos e as mais variadas insinuações. E, com sorte, haveria mais uma rapariga a fazer-se aos polícias e outra a pôr-se ao léu, tentando conquistar o lugar de musa da revolução.
Mas não há.
É espantoso como há hoje, pelo menos, uma camada da população que se disse, e ainda se diz, “de esquerda” e que deixa passar, sem um pio, uma série de medidas que beneficiam apenas os “clientes” presentes e futuros do PS e que são más para o País. 
Criticam, por exemplo, os “amarelos” que ousaram protestar na rua em defesa do sector educativo privado como antes se angustiaram com os “custos para os contribuintes” do BES/GES mas deixam passar em silêncio o escândalo da CGD – onde é politicamente mais grave a nomeação governamental de quase 20 administradores do que o buraco financeiro do dito banco.
Andarão arrependidos os da “esquerda” e, por isso, inibidos? Pensam que parece mal censurar o governo dos “camaradas”? Têm medo de perderem os empregos na função pública? Acreditam mesmo que estes dias são um “tempo novo” que nos vais conduzir ao paraíso das vacas voadoras? 
Ou andam tão envergonhados que preferiram pintar a cara de preto, para mais facilmente serem confundidos com a penumbra de efeitos sombrios que mais caracteriza a tríade PS-BE-PCP?

Pedro Garcia Rosado

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