O lento declínio da Fundação Gulbenkian

Só conheci Azeredo Perdigão em idade avançada e assisti aos últimos anos da sua degradação física e intelectual com pesar, mas sempre fiquei com a impressão que era aquilo a que se chama "Um grande homem".
A realidade é que sendo um advogado prestigiado, embora não conotado com o regime de Salazar, pelo contrário, construiu a Fundação Gulbenkian dentro desse regime, com independência e valentia, e soube simultaneamente resistir aos ingleses que salivavam perante a fortuna legada de Gulbenkian. Criou uma instituição de que Portugal se orgulhou, a que deu um rumo autónomo e criou como símbolo de qualidade.
Entretanto, com a sua morte, a Gulbenkian tem vindo a perder a sua vitalidade e independência, tornando-se um receptáculo das maiores ou menores nulidades do regime, que procuram um lugar para descansar, não desenvolvendo um actividade tão meritória como no passado. Serviços de qualidade foram extintos e a Gulbenkian tornou-se uma mera distribuidora de prebendas e envelopes com dinheiro.
A Azeredo Perdigão sucedeu Ferrer Correia, uma figura ímpar no Direito Internacional, reitor de Coimbra, mas na altura já com poucas faculdades. Lembro-me que as aulas dele uns poucos anos antes já só duravam meia-hora e versavam sobre a Maria Callas...Mas ainda era um figura de referência e independente.
A grande afundanço da Gulbenkian dá-se com o convite a Artur Santos Silva para presidente em part-time (?) , uma brincadeira de mau gosto. Santos Silva também deve ser excelente pessoa, fundou a primeira instituição financeira privada em Portugal no pós 25 de Abril. É um cavalheiro. Mas no entanto, representa o cinzentismo e a armadilha oligárquica em que o regime caiu. Não teria a Gulbenkian ninguém com vitalidade para a presidir?
Agora, como cúmulo da indigência, nomeiam o Mr. Bean português para o seu conselho de administração. Aquela figura pomposa e oca, em cujo mandato como ministro das finanças começou o descalabro das contas públicas, que quer agradar a Deus e ao Diabo, avança para a Gulbenkian...
Mais duas ou três nomeações assim e a Gulbenkian acaba. 
E o que pensará Gulbenkian. aventureiro, irrequieto, não conformista, tudo menos cinzento, desta gente que lhe gere o legado?

Rui Verde

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