CRÓNICA- O Desassossego

Acabam de dobrar os sinos a anunciar o meio-dia. Escondido na minha casa, vejo como abanam as ramas de um pinheiro manso. Lá fora, não só abanam as ramas do pinheiro manso; abana também o “caso BES”. No Parlamento falam da companhia Tranquilidade. Nada era tão tranquilo. Só o BdP é que não observava, então, a falta de sossego. Convenhamos, nesse caso, que o BdP não contribui para o bom repouso do cidadão. Se um polícia contempla um roubo ou uma agressão e não age; mal do polícia porque o clamor contra a passividade perante uma agressão ensurdeceria o homem ou mulher de farda. No “ caso BES” ainda não vi nenhum responsável da vigia do sistema bancário ficar com os ouvidos sem ação. Possivelmente, esta queda que trona a sociedade chegue a alcançar o nível de uma fita onde o terror; a avarícia; a anorexia dos responsáveis políticos; a intriga e a devassidão do sistema bancário sejam um enredo para ressuscitar um “ Outro Padrinho”. Eu vi o Padrinho, mas, nunca numa sala de Cinema. Sabia que a televisão se ocuparia de mo mostrar. Não corro ao Cinema para ver enredos de tiros, nem ver filmes da 2ª Guerra Mundial. 
Ai!.. Mas, se o desassossego tivesse o nome exclusivo de “caso BES”… A vida poderia ter um certo repouso, nem que fosse alguma sesta furtiva. Que dizer da despedida por vontade própria (será mesmo?..) do ministro Miguel Macedo? É preferível não dizer nada e não cansar ninguém com mais estórias. Fez-me recordar histórias que ouvia sendo miúdo. Ouvia a uns e a outros contar como numa visita, mais ou menos necessária, a alguma repartição do Estado, levavam vinte escudos dobradinhos na mão para, ao cumprimentar o funcionário, entregar a prendinha ao solícito funcionário; a burocracia necessária agilizava-se à velocidade da Luz. Nada está tranquilo e o desassossego paralisou o próprio queixume popular perante tanto desatino. Fica um pequeno sarcasmo anedótico entre amigos ou conhecidos que se encontram no Café. Rir-se das palavras do Pedro Passos Coelho; do Miguel Macedo; do Carlos Costa ou do Crato já não tem expressão; transformou-se num riso sem expressão; só tem som.
Diz-se que se bebe para esquecer, no entanto, nesta e durante esta crise procura-se esquecer as penúrias e os desacatos da governação, mas, não se bebe porque o dinheiro foi evaporando-se das algibeiras e o vinho está caro. É obsceno ouvir aqui e além que fulano, secretário ou diretor de qualquer coisa meteu a mão no saco até esvaziar o saco. Revolta ver um responsável agarrar-se á bananeira de qualquer milonga para ilibar-se da sua não-ação. E resulta paradoxal ver os seus currículos a relembrar que foram membros destacados das juventudes partidárias. Os partidos deveriam dissolver as organizações juvenis já que só promovem incompetentes. Acabam por ser a prova palpável que os partidos são organização sem futuro. É baldio o esforço de fundar mais um ou outro partido; carecem de possibilidades; as suas juventudes criam monstros. 
José Luís Montero





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