Uma questão de estabilidade

Quando, em 2010, o então ministro das Finanças de José Sócrates, Teixeira dos Santos, começou a anunciar as políticas de austeridade (sim, o PS teve-as) com o corte dos salários na função pública, não se venderam livros durante vários dias.
Foi o que me disse, na altura, um editor, ele também incrédulo com o anúncio dessa austeridade depois de, um ano antes, o governo do PS ter diminuído a taxa máxima do IVA e aumentado os salários da função pública. Afinal havia crise e não era pequena.
E em Abril de 2011, quando o governo do PS (sim, que foi ele) chamou a Troika, o que já se perfilava era mais austeridade depois do que parecia ser um ciclo dourado de muitas obras públicas (sempre um brinde para uma parte significativa do universo empresarial nacional) e de grandes projectos mas que afinal era uma descida bem inclinada para a bancarrota. 
A economia sofreu os efeitos de um duche gelado e, com a contracção do mercado interno, muitas empresas voltaram-se para as exportações. O turismo não parou (e pode ser muito mais explorado porque há regiões do País que, estupidamente, não o fomenta). O desemprego diminuiu embora com reduções significativas na remuneração, em geral. Mas começou a haver mais dinheiro, e mais empresas. Não se compravam carros (um indicador paradigmático e que até tem maior visibilidade do que os livros) mas agora já se compram.
O rumo da política económica e financeira (com sobressaltos lamentáveis a nível fiscal que bem precisam de ser corrigidos, além de outros disparates) manteve-se estável e, dentro dessa estabilidade, houve alguma recuperação. Pode continuar, ou não. Mas as coisas melhoraram, relativamente à quase catástrofe de há quatro anos. E mantiveram-se estáveis. Positivamente estáveis.
O governo em funções, de Pedro Passos Coelho e de Paulo Portas, teve deméritos (mas também não há governos perfeitos) mas também teve méritos. E um deles foi o de saber aguentar, qualidade que é mais do primeiro-ministro do que do seu vice.
O País, tal como está, não precisa de entrar numa nova fase de instabilidade. Não precisa de um PS cujas promessas eleitorais parecem consistir apenas em atirar mais dinheiro para o País, a começar pela função pública. Pode servir para quem trabalha para o Estado e para os seus familiares mas… até quando. Não precisa também de um PS que começou a afirmar-se por um radicalismo negativista e que parece querer ser igual ao BE ou ao PCP ou aos dois e fazer nascer uma espécie de frente popular na Assembleia da República. Nem muito menos de, por tudo isso e pelo resto, um PS que anuncia o contrário do que andou a dizer durante algum tempo (a descida do IRC, por exemplo). 
O PS transformou-se num potencial foco de instabilidade, sendo capaz (se estiver em situação para isso, no Parlamento) de gerar uma crise governamental que só se resolverá daqui por um ano com novas eleições, já que a Assembleia da República não pode ser dissolvida senão seis meses depois da posse do novo Presidente da República, ou seja, no Verão… de 2016.
A estabilidade de que o País precisa, recuperando gradualmente o que perdeu e avançando com firmeza e com prudência, só pode, neste quadro, ser garantida por uma nova maioria (e maioria absoluta) do PSD e do CDS. Com menos erros de percurso e com uma oposição séria de um PS credível. 
Ficou célebre a frase de Álvaro Cunhal numas eleições presidenciais em que o PCP (um partido diferente, nessa altura) decidiu apoiar Mário Soares na segunda volta: tapem-lhe a cara, para não o verem, mas votem nele. 
É de certa forma o que farei em 4 de Outubro: ignorarei aquilo de que não gostei neste governo, e que me prejudicou e prejudica, e votarei na coligação Portugal à Frente, e na estabilidade. Não tenho outra opção.

Uma ressalva: O meu apoio à coligação PSD/CDS nas eleições legislativas deste mês não significa o meu apoio à gestão PSD da Câmara Municipal do concelho onde resido e aos seus incompetentes representantes.

Pedro Garcia Rosado

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