Passos Coelho vs. António Costa: o PS quer mesmo disputar o eleitorado da extrema-esquerda?

É certo que se pode dizer que António Costa esteve “melhor” no debate televisivo da RTP, SIC e TVI, sobretudo se se tiver presente o primeiro dos três debates entre o actual e o anterior secretários-gerais do PS, há um ano. Mas esse “melhor” só tem em conta a sua agressividade Sendo o candidato a primeiro-ministro, Costa teria de ser agressivo. Precisava de o ser. E o actual detentor do cargo de primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, pouco mais poderia fazer do que responder e de se defender.
Só que a agressividade de Costa escorregou, como não podia deixar de escorregar, para a crítica das políticas passadas. Quando isso aconteceu, Costa deslocou-se e deslocou o PS para a extrema-esquerda. E é do eleitorado da extrema-esquerda que o PS precisa?
O que Costa disse podia ter sido dito por Rui Tavares, Jerónimo de Sousa, Catarina Martins, Heloísa Apolónia ou mesmo por uma personificação portuguesa de Alex Tsipras. 
Acontece que os eleitores que esse tipo de intervenção pode seduzir já têm os seus votos, em princípio, atribuídos à extrema-esquerda (e pode não ser errado, em termos discursivos, considerar que o PCP é hoje mais um partido da extrema-esquerda do que da “esquerda”). 
Os eleitores de que o PS precisa são aqueles que, mais ou menos, suportaram os quatro anos da austeridade oriunda da má governação do PS e cumprida pelo Governo PSD/CDS, que agora começam a sentir e a intuir melhorias e que anseiam pela estabilidade. E que não querem a agitação e a berraria da extrema-esquerda. 
A esses Costa não respondeu, não disse nada. Não disse o que talvez esses eleitores desejam ouvir: depois do que sofreram, que garantias podem ter de que as coisas não voltam atrás (e de que as suas privações serviram para coisa alguma)? E, mais, por que motivo é que os dois partidos que estiveram mais tempo no governo não se entendem?
São esses eleitores, no entanto, que decidem as eleições em Portugal. E que podem confirmar, ou infirmar, a tendência que tem ressaltado gradualmente nas várias sondagens: a possibilidade de uma vitória da coligação PSD/CDS e de uma derrota do PS.
Nesta perspectiva, só se poderá dizer verdadeiramente que Costa esteve “melhor” do que Passos Coelho quando se contarem os votos de 4 de Outubro. 
Até lá, pode reconhecer-se que Costa demonstrou que já consegue começar a estar à vontade diante das câmaras de televisão e que talvez Passos Coelho precise desse estímulo para afirmar com maior precisão o que pode fazer, e deve, se ganhar de novo as eleições.

Pedro Garcia Rosado

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