Portanto, o PS quer uma justiça exclusiva para os seus políticos?

É o que parece e não há quem o negue. Antes pelo contrário. 
A romaria de dirigentes (alguns dos quais ex-altos dirigentes do Estado) e militantes do PS ao Estabelecimento Prisional de Évora, onde se encontra detido preventivamente o ex-primeiro-ministro, tem-se caracterizado por declarações de um duplo padrão: (a) José Sócrates está inocente e (b) o que estão a fazer-lhe (pela mão de um juiz de instrução e do Ministério Público e depois pela mão do Supremo Tribunal de Justiça) é uma «infâmia».
O outro lado da moeda das declarações de Mário Soares, Manuel Alegre, António Campos, Fernando Gomes, António Guterres e “tutti quanti” é este: José Sócrates não devia estar em prisão preventiva, por ter sido primeiro-ministro e do PS e as normas do processo penal (em que os governos do PS tiveram muito a dizer) não se lhe deviam aplicar porque, por definição, só pode estar inocente.
A detenção para interrogatório, a publicidade de detenções e buscas, as fugas de informação que visam exclusivamente os eventuais maldades de suspeitos e a sistemática quebra do segredo de justiça são males antigos do sistema judicial português e nunca deixaram de parecer uma espécie de punição “avant la lettre” no caso de os julgamentos ocorrerem tarde e deixarem mal o Ministério Público. O PS e os seus governos não estão isentos de pecado nesta engrenagem que agora apanhou o seu mais controverso e mais irritante secretário-geral e um primeiro-ministro que deixou um rasto tão animado de casos duvidosos e de iminência da bancarrota do Estado.
É por isso que a insistente romaria de “notáveis” do PS a Évora se torna tão chocante. Porque o seu ex-secretário-geral está passar exactamente pelo que passaram muitos outros cidadãos que os tribunais ilibaram ou condenaram ou não conseguiram castigar. 
O PS foi governo (foi, aliás, o partido que mais anos esteve no poder), o seu actual secretário-geral é licenciado em Direito e foi ministro da Justiça (com o ex-primeiro-ministro agora detido) e quer ser primeiro-ministro. É estranho que esteja em silêncio.
As visitas, por motivos humanitários, a alguém preso são sem dúvida louváveis. Mas quando essas visitas se transformam em campanha política, como está na prática a acontecer, o caso muda de figura.
E quando o PS, formalmente, mantém o silêncio, isso só pode significar que todo o partido está de acordo numa coisa: a justiça pode agir à vontade desde que poupe os dirigentes do Estado, quando eles forem do PS.

Pedro Garcia Rosado

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