NÃO FALO

Não; não quero falar e não falarei. Os poderes ou os poderosos praticam muitas fazes a arte de nos fazer falar do que lhes interessa. Quando deteto nuvem; não falo. O “caso Sócrates” é uma dessas nuvens. Os velhos anarquistas sempre disseram: o Poder corrompe e também dizem que nunca tomas o Poder porque é o Poder quem te toma. Não defendo, portanto, o fazer político do socialista enclaustrado, nem, neste momento, tenho dados sobre o nível de corrupção tanto pessoal como do seu entorno. No entanto, sei que a prisão preventiva é uma medida excecional e que se deve aplicar excecionalmente; e sei que o ato de prender alguém é um ato que não pertence à sociedade do espetáculo. O condenado ou o suspeito de crime não deve e tem todo o direito de exigir sigilo em todos os aspetos. O condenado paga o seu crime com a sentença que é obrigado a cumprir e o suspeito é um acusado e a acusação deve e tem que ser provada. O resto é espetáculo de escárnio de muito mau gosto; o Poder não tem o direito de adubar o escárnio a um cidadão chame-se Sócrates ou Platão. E lamentando-o muito a carta de crítica ao Sistema feita pelo retido Sócrates fala verdade. Lamento-o porque ele hoje é vítima do Sistema e durante o seu mandato foi vítima de mil asneiras proferidas pelos seus adversários (de dentro do partido também?), mas, Sócrates foi Sistema. Por isso lamento dar-lhe a razão e espero que saia totalmente do Sistema de democracia amancebada existente.
Esta mesma semana um ex-ministro de Passos Coelho expressa de forma cristalina o fazer do Poder e do Sistema. Álvaro Santos Pereira, ex-ministro de Economia, conta como o preço da energia não era tratado em função do interesse comum, mas, sim do interesse que este Governo tinha em vender a EDP. O Governo não hesitou em prejudicar tanto o cidadão comum como a produção. O preço da energia é determinante na produção; no entanto, este governo preferiu cortar; tesourar os funcionários; as escolas ou os hospitais e não o lóbi energético. Santos Pereira também relata como meter-se, principalmente, com o lóbi da Energia implica, imediatamente, ser alvo de chacota nos Mídea. O ex-ministro é claro tal como o Sócrates o é ao acusar o labirinto de podridão em que se vive. 
Mas, a mentira está no leito de todos e cada um. A primeira ou grande mentira está nos programas eleitorais. Hoje o Estado-Nação em que vivemos encontra-se na fase do adeus; do não existo porque sou passado. O Estado não programa mais do 30% da cousa pública. Legisla Europa e marca as diretrizes; no entanto, qualquer político ou partido político apresenta programas que jamais se cumprirão anunciando uma cara nova da sociedade. Mas, eles sabem, de antemão, que os seus programas não são mais que a banana que se dá ao macaco. Mentem e enganam; ludibriam emoções; desejos; necessidades. Praticam a brincadeira do mau gosto e vivem no jardim dos horrores; vivem do e no Sistema.

José Luís Montero


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