O medo que o PS tem

Pedro Garcia Rosado

Reina, pelos vistos, o medo no PS. Note-se: não faz mal. O medo é uma condição bem humana e não falta quem diga que é o medo que protege os seres humanos de situações que podem mesmo ser perigosas. É como a proverbial sombra nas cavernas paleolíticas: seria um predador? O melhor era não arriscar.
Suponho que o medo também se aplica à política. Quase como a prudência. Mas a prudência, convidando ao raciocínio, não tem de emperrar a acção. O medo, sim. Inibe, complica e convida ao disparate. E a disparar para todos os lados, na esperança de encontrar um alvo onde se acerte.
É este o medo do PS a dois meses das eleições legislativas. Para quem não quer a vitória do PS, é bom. Para o próprio partido, é mau. 
E é, de certo modo, compreensível. As eleições de Outubro já não são favas contadas e o máximo a que o PS pode almejar é a uma vitória com maioria simples. 
António Costa forçou a saída de António José Seguro porque o anterior secretário-geral não dava mostras de garantir um do PS ao poder depois de uma mandato completo do governo PSD/CDS. Agora vai pelo mau caminho. Ao mesmo tempo dá a ideia de não ter uma política económica coerente, com várias pessoas a dizerem coisas diferentes em nome do mesmo PS. 
A bancarrota de 2011 nasceu com o último governo do PS e pode ser que o eleitorado ainda se lembre. À esquerda é acossado pela extrema-esquerda que lhe pode roubar votos. As eleições presidenciais arriscam-se a ser um pesadelo para um partido sem candidato oficial. A detenção do ex-secretário-geral que foi o primeiro-ministro da bancarrota é um pesadelo de que jamais os socialistas se livrarão e toda a gente sabe que o problema não é só Sócrates (e ninguém acha estranha a autoexclusão de Paulo Campos das listas de deputados?!). E os debates televisivos podem ser um problema.
Quem viu António Costa na “Quadratura do Círculo”, ou os seus três debates televisivos com Seguro, percebe que está diante de uma pessoa que tem dificuldade em debater na televisão e suspeita que até pode ser a consciência dessa dificuldade que levou o PS a recusar um debate entre Costa e o vice-primeiro-ministro e presidente do CDS, Paulo Portas, muito mais à vontade nessas circunstâncias. Mas o que fica é a recusa.
Se estivesse seguro da sua posição, António Costa teria aceitado o debate com Paulo Portas. E arriscado. Mas não está. Devia ter sido democraticamente magnânimo e ser ele próprio a defender o debate. Mas não o fez. Perde assim muito mais do que se tivesse aceitado e fosse obrigado a curvar-se perante o adversário.
Não é muito diferente das reações do PS a toda e qualquer boa notícia mais favorável para o Governo (e para o País). Alinhando com a extrema-esquerda, mostra-se satisfeito com a possibilidade infundada de não ser devolvida a sobretaxa de IRS. E encrespa-se porque o desemprego está a diminuir. São factores que, sendo bons para a população em geral e para o Governo em particular, metem medo ao PS. Porque – vejam lá o perigo – as boas notícias para o País podem favorecer o Governo cuja bondade elas confirmam.
E isso pode levar à soma de todos os medos: o PSD/CDS a ganhar as eleições. 
É um cenário de horror para o PS.


Escritor e tradutor
http://pedrogarciarosado.blogspot.pt

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