Bancos de imagens: entre a ignorância e a má fé

Há quem diga que a situação é igual: o PS  pôs em cartazes pessoas reais e atribuiu-lhes histórias falsas mas politicamente convenientes para o partido de António Costa, com a agravante de as pessoas retratadas estarem vivas para revelarem a mentira; a coligação PSD/CDS pôs em cena pessoas que venderam os seus direitos de imagem a uma empresa que depois os aluga, tal como a muitas outras imagens, a quem as quiser pagar.
A situação não é igual. No segundo caso estamos no domínio da ficção; no primeiro estamos no domínio da mentira.
Podemos considerar que a maior parte das pessoas não sabe que existem essas empresas que vendem imagens (que são genericamente conhecidas por "bancos de imagens". E, no entanto, é provável que cada pessoa tenha contactado com fotografias de bancos de imagens pelo menos uma vez, ou mesmo mais, no decurso da sua  vida.
Basta olhar para aquilo que nos jornais identifica a origem da fotografia: aparece por vezes o nome de quem fotografou, aparece a críptica menção "D.R." (que significa "Direitos reservados", indicando que a imagem tem dono que se desconhece ou não é revelado, aparece tantas vezes a referência "Getty Images"... e esta deve ser a empresa de imagens que detém o maior catálogo. Da imprensa escrita aos anúncios que envolvem pessoas (bancos e seguros, em especial), o uso das imagens dessas empresas é comum, é quase obrigatório e apenas porque facilita o trabalho e diminui o seu custo. Se não pudessem dispor dos bancos de imagens, as empresas (das jornalísticas às de publicidade) teriam de se lançar em processos de "casting" (escolha de figurantes, ou actores) e morosas sessões fotográficas.
Nas televisões, repare-se bem, não é muito diferente. Quando num telejornal se quer ilustrar uma notícia de temática financeira ou económica vêem-se pessoas que nada têm a ver com o assunto, ao longe, a andarem na rua (costas ou pés) e imagens de notas ou moedas. A lógica é a mesma.
Que o PS tente justificar a sua mentirola propagandística com as imagens de banco de imagens dos partidos adversários é lamentável mas compreende-se, devido ao desespero em que se enredou. Mas que a imprensa perfilhe a narrativa e diabolize o uso dos bancos de imagem é muito pior, e muito mais desonesto.
Quanto ao público que rapidamente bateu palmas com as mãos todas (as de cima e as de baixo...) à crítica dos bancos de imagens, ou é ignorância (mesmo assim pouco desculpável porque basta raciocinar um pouco para perceber o essencial disto) ou é má fé. E esta, claro, já não tem desculpa nenhuma.

Costa Cardoso

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