A questão de 2015

Rui Verde
Em 1980, Ronald Reagan, candidato a presidente dos Estados Unidos da América, colocou a seguinte questão: Are you better off than you were four years ago? (cfr. https://www.youtube.com/watch?v=loBe0WXtts8 [Estão melhores do que há 4 anos?]. A resposta foi um rotundo não e Reagan ganhou as eleições ao então presidente Jimmy Carter, inaugurando um período de 12 anos de domínio republicano da presidência.
Em Portugal, hoje, a questão repete-se, depois de tantas voltas e reviravoltas. Se nos sentirmos melhor do que há 4 anos devemos votar na Coligação, caso contrário deveremos procurar alternativas.
Em termos económicos, os números, não sendo brilhantes, são aceitáveis, o que tinha que aumentar, aumentou (PIB ou desemprego) o que tinha que baixar, baixou (desemprego). No actual modelo económico português ancorado no Euro e na União Europeia seria difícil fazer melhor. Obviamente, que alternativamente deveria ter sido ensaiada uma saída do Euro e do espartilho europeu que como se verá no futuro é o grande peso e travão da economia portuguesa, mas se até o Syriza teve medo…É também evidente que os números do desemprego são falaciosos, escondem a emigração. Mas também é certo que a emigração é um mecanismo de ajustamento previsto pelos teóricos da moeda única, ou dito de outro modo, a mobilidade do factor trabalho é essencial para confrontar os choques assimétricos nas economias nacionais.
Em termos financeiros, o grande objectivo foi alcançado: o retorno ao financiamento nos mercados financeiros internacionais a taxas sustentáveis. Embora, a despesa continue a subir aparentemente, e a grande responsável por alguma evolução favorável das contas públicas tenha sido a receita fiscal.
Mas, apesar destes aspectos, não parece existir um especial feel good factor, a não ser na propaganda disseminada nas redes e na imprensa e numa ou outra pessoa que ficou traumatizada com o consulado socrático (talvez sejam milhões e não uma ou outra…). Há muitos problemas e têm uma quantificação difícil, mas quem anda por lá apercebe-se disso. Os atendimentos de saúde pioraram imensamente. A educação degradou-se, a qualidade de vida em geral piorou. A maior parte do rendimento disponível é levado em contas e contas e mais contas. Isto é aquilo que se convencionou chamar o Estado Social, efectivamente piorou.
A acrescer foi instaurada uma ditadura fiscal, a rapacidade do fisco, o desrespeito pelo elementar bom senso, pelos princípios gerais de direito, passaram a ser a norma. Quem não recebe semanalmente uma cartinha registada rectangular do fisco? Um horror.
Em termos de justiça, os direitos individuais sofreram uma grave supressão, ainda não inteligida pela maior parte da população, mas certamente por aqueles que sofrem na pele os constantes pequenos e grandes atropelos aos direitos fundamentais que se tornaram a regra em Portugal.
São, sobretudo, estes aspectos de perda do Direito e da humanidade, de caminho para a instauração de um Estado de servidão, em que o cidadão passa de novo a súbdito que criam muitas dúvidas sobre o rumo da Coligação, rumo que aliás e de forma perigosa e quiçá criminosa já fora iniciado por Sócrates. Por isso, o PS não é alternativa. Pelo contrário foi buscar mais um conjunto de economistas trânsfugas e saltimbancos que servem Menelau ou os Troianos sem rebuço ou hesitação. Só que estes modelos não servem.
Este já não é um tempo de economistas e números, é um tempo de políticos e da política para a criação de uma alternativa real ao marasmo em que caímos.

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