Sky towers. Negociatas luso-angolanas: Ricardo Salgado, Sobrinho, Guilherme, etc
Que as Sky Towers são um bonito projecto imobiliário desenvolvido
em Luanda ninguém duvida.
Contudo, a sua fama e interesse não derivam da arquitectura
ou dos pormenores da construção, mas do facto de serem a base de uma longa e
grande negociata que envolveu os vários actores ligados à falência do BES e do
BESA. Por aqui passam os nomes de Ricardo Salgado, Álvaro Sobrinho, José
Guilherme ou Hélder Bataglia, e provavelmente muitos outros.
Contemos a história já conhecida.
As Sky Towers são um projeto do Grupo Escom pertença do
Grupo Espírito Santo. Em Julho de 2013, o
grupo Escom anunciou a conclusão das obras de construção de quatro torres, onde investiu 674,4 milhões de
dólares. As quatro torres destinam-se a habitação, escritórios e actividades
comerciais. As obras, com a duração de quatro anos, foram financiadas pelo
Banco Espírito Santo de Angola (BESA) e estiveram a cargo da construtora
portuguesa Teixeira Duarte.
Por detrás desta construção, estiveram múltiplos negócios
que só a pouco e pouco vão conhecendo a luz do dia.
O primeiro negócio é aquele que resulta na famosa prenda de
14 milhões de euros do construtor José Guilherme a Ricardo Salgado. Por
indicação de Salgado, Guilherme, aflito de dinheiro, foi-se dedicar a fazer
negócios em Luanda. Um dos negócios que começou por fazer foi a compra à Escom
de um terço das Sky Towers por 7 milhões de euros (possivelmente financiado
pelo BES). Esta compra dá-se em 2006. Em
2009, Guilherme revende a participação à Escom por 34 milhões de euros. Em
menos de 3 anos, obtém uma mais-valia de 27 milhões de euros. Por estes e
outros negócios Guilherme oferece uma “prenda” a Salgado de quase 14 milhões de
euros. Neste negócio, colocam-se muitas perguntas:
i) Qual a racionalidade da Escom vender por 7
milhões e comprar por 34 milhões, três anos depois?
ii) O que explica a coincidência de o valor que José
Guilherme oferece a Salgado ser aproximadamente metade da mais-valia que obteve
com o negócio indicado pelo amigo?
iii) Existem conflitos de interesses nestes
negócios?
Mas as Sky Towers não ficam por aqui.
Agora, sabe-se também
que o BESA através de Álvaro Sobrinho concedeu créditos à sua família no valor
de 843 milhões de dólares para a suposta aquisição de imóveis nas torres.
Contudo, parece que apenas 361 milhões de dólares se destinaram a essas
compras. Os restantes foram aplicados noutras venturas.
Estes são os factos públicos.
Especultivamente, diremos que tudo aponta que temos um
projecto que serviu de fundamento branqueador para uma série de operações de enriquecimento
ilícito de várias pessoas. A propósito das Sky Towers, realizaram-se compras e
vendas, intermediações, empréstimos, etc, que serviram para fazer circular
dinheiro e entregá-lo a determinadas pessoas angolanas e portuguesas. É fácil
num projecto desta envergadura fazer passar uns milhões de um lado para o
outro.
Convinha
perceber se a operação que José Guilherme realizou de compra e revenda foi
real, ou
uma mera forma de financiamento deste e de Ricardo Salgado. Guilherme
acrescentou alguma mais-valia enquanto deteve a parcela das Sky Towers? O preço
destas valorizou-se assim tanto no mercado? É que se nada disso tiver
acontecido estaremos perante uma mera engenharia financeira. O mesmo se diga
relativamente aos empréstimos concedidos aos Madalenos. Estes iam pagar os
empréstimos com rendimentos? Que garantias prestaram? Compraram mesmo partes
das Sky Towers? E em caso afirmativo que aconteceu a esses apartamentos,
escritórios ou edifícios? Ainda são deles? Ou já foram “transferidos” para outrem.
As Sky
Towers são um vespeiro de negociatas luso-angolanas que urge perceber.
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