Cadernos da Nova Direita Liberal VI. Portugal não é um país atrasado

No discurso corrente, existe a ideia espalhada que Portugal é um país atrasado e sem solução viável. Não é assim. Se repararmos e olharmos para o Índice de Desenvolvimento mais abrangente que existe, o IDH da ONU criado por figuras como Amartya Sen (Prémio Nobel da Economia) e que mede a qualidade de vida de um país, entendida como um conjunto de factores essenciais ligados ao crescimento económico, educação e saúde, veremos que Portugal ocupa a 43.ª posição no mundo, num total de 188 países. Nessa classificação ocupa o primeiro quarto da tabela sendo considerado um país com um desenvolvimento humano muito elevado. 
É verdade que no ano 2000, ocupava a 36.ª posição, mas é um facto que desde aí Portugal foi mal governado e aderiu ao Euro, com as consequências perniciosas que se conhecem. 
Contudo, daí não decorre estruturalmente que Portugal não seja um país avançado e com uma qualidade de vida em geral bastante elevada. Aliás, bastaria incluir outros critérios, como o sol ou clima, para fazer subir Portugal no índice e descer alguns países nórdicos onde é deprimente viver.
O grande surto desenvolvimentista português deu-se, em termos contemporâneos, em duas épocas distintas, nos anos 1960s e nos anos 1985 e seguintes. São duas épocas determinadas pela existência de um governo forte, autoritário num caso, Salazar e Cavaco Silva e por uma abertura ao comércio externo e aos fluxos estrangeiros. Estas duas épocas permitiram o rápido desenvolvimento do país e acumulação de capital, que por sua vez numa segunda fase permitiu a criação (por Marcelo Caetano) do Estado Social que alargou os benefícios económicos à saúde e educação, e a expansão do mesmo Estado Social (por Cavaco Silva) que consolidou o bem-estar como regra na sociedade portuguesa.
As taxas de mortalidade infantil são das mais baixas do mundo. A esperança de vida da mais elevada do mundo. A escolaridade está nos mais altos níveis mundiais, assim como a alfabetização. Em termos económicos, o produto per capita também está no patamar superior. Claro que tudo poderia ser melhor, mas a situação de base é razoável.
O problema português é conjuntural. De facto, neste momento está num momento de decadência. É evidente que se essa decadência, que já vem do ano 2000, se mantiver, o país perderá as vantagens que tem e o problema transformar-se-á em estrutural. Portanto, haverá que começar a atalhar caminho e deixar o pântano em que caímos a partir de 2000.

Rui Verde

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