PARIS JÁ NÃO ESTÁ PERTO DA PRAIA

Paris viveu a barbárie em todas as dimensões. A pata bruta do terror religioso ceifou e o mundo escancarou as bocas de admiração e pânico; de pena e indignação. As imagens correram o mundo e mundo respondeu: “eu sou Charlie”. Todos somos ainda que existam os da performance vocabular. Mal apareceu o terror tapado com um manto divino, surgiram os criadores de vocábulos extra- sensoriais. Uns como os grandes jornais estadunidenses exportaram o termo “bom senso” como se não fosse mais que um ato vulgar de autocensura. Nas suas páginas os desenhos humorísticos ou satíricos mais frontais foram barrados. Outros, com ares de sociólogos da calçada portuguesa, inventaram o perigo da Islamofobia sem se aperceber que o que pretendiam dizer era que não se deveria atacar ou condenar o mundo árabe. Eles próprios, muitos deles conhecidos agnósticos ou ateus, assumiam expressão de carater religioso. Permitindo, inocentemente, uma larva inconsciente que nos diz: “não se ironiza ou brinca com os deuses…” E desta forma, são os primeiros a condenar o Islão. Outros, presos do pânico ou do desconcerto, apressaram-se a catalogar uma simples pintada nas paredes exteriores da Mesquita de Lisboa como um ato de “vandalização” nunca visto… Estes, cegos pela ocasião, não passearam pelas estradas da Península Ibérica pela década dos 70-80 quando se viam muitas Igrejas (Católicas ou Cristãs) com slogans pintados nos seus muros. Um desses slogans fascinou-me; dizia simplesmente isto: “ que se pare el mudo porque me quiero bajar.” Naquela época ninguém catalogou aquelas pintadas como atos de vandalização das igrejas. O mundo parece que perdeu Liberdade e espírito crítico e só ganhou:” pensas isso? Então, pensa-o só para ti. Guarda-o”.
 Cohen- Bendit dizia nas páginas de um jornal francês que mataram o Maio de 68. Falava dessa forma corrosiva de criticar (e rir-se) dos poderes que nos afligem e dominam (e como sabemos um dos grandes poderes é o poder dos deuses.). Noutro dia li como vários dos alvejados foram colaboradores da prestigiosa revista libertária Monde Libertaire. Outro dia, reli que vários maçons perderam a vida. E concentrei-me. Fui aos Restauradores e permaneci algum tempo concentrado; a observar; a meditar; a maldizer de forma surda e muda a barbárie. Outro dia qualquer talvez me manifeste ainda que não goste do ambiente de certas concentrações; não gosto de tropeçar com estrelas parlamentares ou divos partidários. Quando acontece, normalmente, isolo-me ou se não é possível o isolamento abandono a concentração. Mas, nesta ocasião, ainda que saiba dos ambientes, marco presença com ou sem adeus prematuro. Estamos a perder a amada Liberdade a passos agigantados. Ficaremos sós no nosso casulo particular e na rua e pela rua olharemos para os deuses e diremos: “ bom dia…”

José Luís Montero

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