CAOS

Uma previsão meteorológica extravagante, um caso político daqueles em que o político citado se atrasa a desmentir uma notícia que o lesa ou cujo desmentido não tem o destaque correspondente, uma personalidade pública apanhada numa coisa que "parece mal" - eis três exemplos de coisas que têm circuitos de migração entre a imprensa e as redes sociais (Facebook e Twitter, em especial) que as transformam, a certa altura, em notícias e cujo prazo de validade, por dificuldades atribuíveis aos seus destinatários e propagadores, ganham uma relevância que depois lhes garante vida própria.
Ou seja: o que foi notícia (ou mesmo um simples boato) em 2010 pode ser hoje afirmado no Facebook como coisa actualíssima ou chegar mesmo a um jornal outra vez como notícia, sem qualquer tipo de controlo, de verificação de factos, circunstâncias ou protagonistas (o que é favorecido pela substituição dos arquivos e dos centros de documentação dos órgãos de comunicação social pelo Google...).
A situação, aliás, agrava-se quando essas informações ganham um estatuto aparentemente fiável ao chegarem a "sites" de notícias, de autoria e credibilidade na prática anónimas e com nomes tão sugestivos como "Tal Disparate", "Acorda Portugal" ou, para disfarçar, "Notícias ao Minuto". São meios de comunicação que não obedecem a um mínimo de trabalho jornalístico, fora de qualquer controlo de bom senso mas facilíssimos de criar.
Instalou-se com isto um caos informativo que não favorece os órgãos de comunicação social ainda legítimos (face à lei e ao bom senso) mas que estimula, às escalas mais variáveis, o chamado "jornalismo do cidadão" e a migração de jornalistas mal pagos e em início de carreira para os tais disparates.
Este caos é um elemento que agrava a crise da fragilíssima imprensa portuguesa mas, pelos vistos, ninguém se importa. Quanto ao público, que adora um título "picante" combinado com preconceitos e que tem preguiça em ler mais do que os títulos, até agradece.
E o futuro? Não pensem nele, não...

Costa Cardoso

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