As portagens e o esquecimento

Independentemente dos muitos problemas de toda a ordem que isso suscita, a entrega ao Fisco das dívidas das portagens não pagas baseou-se apenas na eficácia (que até podemos considerar "terrorista") da máquina trituradora que era e é a Direcção-Geral dos Impostos/Autoridade Tributária. Uma coisa é o acumular de papéis por uma dívida praticamente incobrável, a outra uma marcha cadenciada de multas, execuções, penhoras, custas processuais e tudo o resto.
A multiplicação de casos que têm estado a obter, e compreensivelmente, maior visibilidade é notícia, tal como é notícia a decisão judicial recente que põe a tal entrega em causa e que pode pôr tudo o resto em causa (até porque as dívidas das taxas moderadoras também passaram para o Fisco), o que obrigaria a um desenvolvimento jornalístico... que parece ter ido de férias.
Mas há aqui uma outra questão fundamental, e que também fica infelizmente esquecida pelos apressados jornalistas portugueses: como é que se chegou a isto'
Vai-se ver e os relatos dos muitos casos em que uma dívida de dezenas de euros se transformou numa dívida de milhares de euros assentam em coisas banais: a pessoa que passou sem pagar porque se esqueceu, a outra que nem pensou em ver o que se passava com o identificador da Via Verde depois de ter fechado a conta bancária, uma terceira que não teve tempo de ir pagar no prazo, ainda outra que vendeu o carro e lhe perdeu o rasto mas ficou com o nome associado ao veículo (que depois passou sem pagar). Por outro lado, não aparece ninguém das tais "comissões de utentes" anti-portagens a fazer-se de mártir e a dizer que não pagou porque não quis e que nunca pagará, nem que tenha de ir dormir nu para debaixo da ponte.
Uma imprensa responsável devia noticiar os problemas (todos eles) suscitados pela máquina trituradora da AT em situações obviamente desajustadas mas também a origem dos problemas aqui sofridos por muita gente que, esquecida dos seus deveres e direitos, se foi meter na boca do lobo.
Porque é que os jornalistas destes novos tempos se esquecem disso?

Costa Cardoso

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