Perplexidades de um português médio

Ao contrário do que a retórica sugere, este tempo em Portugal é de consenso e pântano, para usar as expressões do dois mais dilectos filhos da nação: Marcelo Rebelo de Sousa e António Guterres.
O governo das "esquerdas" ao contrário do que se previa, continuou com a política errada do governo das "direitas". Continuamos com aumentos de impostos, que assumiram um peso impossível no país, condenando-o ao marasmo; continuamos com a austeridade. É evidente que há uma gestão da austeridade. O anterior governo ia buscar aos funcionários públicos, este governo vai buscar aos proprietários. No fim, tanto uns como outros estão "tesos", portanto...
Causa espanto, apesar do look pasionario que vai pelo Bloco de Esquerda, e o programa do PCP, que estes partidos apoiem a política austeritária germânica. Na realidade, estão a converter-se ao pragmatismo, porque perceberam bem que sem obedecer aos teutónicos, não recebem dinheiro da Europa, e como Portugal não produz o que precisa, não se podem dar ao luxo de perder o dinheiro na Europa. Realmente, como dizia Marx, a economia e as condições materiais definem a super-estrutura e a política. E os ex-amigos Tsipras e Varoufakis deram o exemplo no terreno. Quiseram mudar a política setentrional, e ficaram sem dinheiro no Multibanco... É evidente, que os alvos da austeridade mudam um pouco, mas a situação estrutural mantém-se. Política económica e financeira errada, sem crescimento, sem desenvolvimento, gerindo os passivos até redescobrirmos a Índia ou Novos Brasis.
Quanto ao PSD, deixou de ser alguma coisa. Brinca à oposição. Espera que Costa caia de maduro, mas tem medo de o fazer cair. Ainda ontem ou anteontem, teve oportunidade de fazer sobressair a hipocrisia governamental a propósito de um projecto do PCP de limitação dos ordenados dos gestores. Teve medo. Apoiou o governo. Já no caso Banif aconteceu a mesma coisa. O PSD fala, mas tem medo, não age. Já teve duas oportunidades de derrotar o governo. Não as aproveitou. Pode encher as redes sociais de posts e piadas engraçadas, mas paralisou. Não se atreve a sair da linha germânica-pragmática. É um partido que perdeu a alma, tantos os contorcionismos que faz.
Portanto, há um consenso sobre a política económica e financeira e o país está num pântano. Por isso, Marcelo e Guterres devem estar felizes.

Rui Verde

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