A China e Portugal. O jogo da super-potência emergente


Por estes dias, temos sido brindados com a pose de estadista do nosso primeiro-ministro enquanto visita da China. A comunicação social tem-se entretido a falar dos negócios que Costa está a promover, como se a única tarefa de um primeiro-ministro "vender" produtos e negócios nacionais. Também é, mas não só. 
Tem-se visto que Costa está a ser recebido com toda a pompa e circunstância, mas de repente vimo-lo em Macau entre o Brasil e os outros PALOPs na companhia das mais elevadas autoridades chinesas. Este quadro destoava um pouco do anterior quadro em que parecia existir uma inter-acção bilateral entre Portugal e China. Fomos aprofundar um pouco mais as notícias.
Aquela coisa em que Costa aparece em Macau é o chamado Fórum Macau. O Fórum Macau tem o nome completo de Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa e é uma organização instituída pelo Governo Central da China para "consolidação do intercâmbio económico e comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, utilizando Macau como plataforma de ligação para a China e os Países de Língua Portuguesa." Portanto, é um organismo do governo chinês que conta com um secretariado permanente, e obviamente procura centralizar as relações e influências da China junto dos países lusófonos.
A China actual, sobretudo com a liderança Xi Jinping, não é mais um "gigante adormecido", mas um país em afrimação geo-estratégica com uma visão mundial, que essencialmente assenta na garantia dupla de mercados: mercados para obter as suas matérias-primas e mercados para escoar as suas manufacturas, além de se libertar de um certo cerco geo-estratégico. Dentro do desenvolvimento estratégico chinês faz obviamente parte o estabelecimento de relações com os países lusos como um todo. Angola e Brasil fornecem matérias-primas, Portugal fornece algum Know-How e acesso ao mercado europeu, em que o outro grande pilar é o Reino Unido agora em retirada da U.E.
A visão global chinesa reflecte-se nos anúncios feitos no referido Fórum ( e não espelhados na imprensa portuguesa). O primeiro- ministro Li Keqiang anunciou créditos especiais, doações e perdões de dívida nos próximos três anos em relação aos países lusófonos. Acrescentou ainda que a China  vai conceder empréstimos com condições especiais no valor de USD 300 milhões a quatro países africanos de língua portuguesa (PALOP), incluindo Angola, e a Timor-Leste até 2019 e  doar outros USD 300 milhões aos PALOP, além  de perdoar dívidas já vencidas no valor de USD 78 milhões.
Há uma estratégia chinesa de envolvimento dos países lusos, percebendo a sua razoável unidade e grande potencial. Não sendo este um aspecto negativo, é um aspecto a que haverá que estar atento, pois nas relações com a China não estamos perante o simples estabelecimento de relações comerciais, mas sim no meio de um jogo estratégico mundial de grande alcance, em que Portugal um dia poderá ter que tomar partido, ou não.

Rui Verde

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