Os media: Nebulosas e cepticismo

Nos tempos de hoje, pelos meios à disposição, os media conseguem criar facilmente factos, histórias e contextos que podem ou não corresponder à realidade, mas são assumidos como verdadeiros e daí levam às mais variadas decisões e aos mais variados disparates. Este fenómeno não é novo. Já no final do século XIX nos EUA, a chamada imprensa amarela controlada por W. R. Hearst foi acusada de "inventar" os factos que levaram à guerra entre os Americanos e os Espanhóis que levaram à conquista de Cuba pelos primeiros.
Cem anos volvidos, a influência dos media tornou-se avassaladora.
Nos dias mais recentes a nível nacional e internacional têm aparecido vários fenómenos deste género, daqueles que procuram criar um facto unânime e não deixar qualquer alternativa, mas que não deixam de levantar dúvidas.
O primeiro "facto" diz respeito ao novo Presidente da CGD, um senhor chamado Domingues, de que nunca se tinha ouvido falar, que primeiro foi apresentado como um guru salvífico, e agora, desculpem a expressão como uma "besta quadrada". Recebe ordenados milionários, não respeita as regras de transparência, enfim, só tem defeitos.
É estranho. Vejamos as questões. A primeira é do salário elevado. A minha resposta é muito simples. Também eu gostava de ter um salário assim, por isso obedecendo a um imperativo kantiano, desejo ao outro aquilo que desejo para mim. Se Domingues não estiver à altura do salário, pela sua prestação, que o demitam quando for o caso. Até lá deixem-no trabalhar.
A segunda questão foi "inventada" pelo nosso querido Dr. Mendes na sua prelecção substituta de Domingo e tem a ver com a entrega de umas declarações ao TC. Isto é um trapalhada enorme.
Contudo, o que parece é que há alguém, não sei quem, muito interessado em atrapalhar o trabalho do Dr. Domingues. Sim, este parece arrogante, sim parece que o Governo cedeu demais para o nomear, mas ainda não se viu o senhor a trabalhar e já o queimam, tentando por todos os meios afastá-lo.
É estranho, por isso não partilho da histeria que por aí vai.
O segundo facto é mundial e tem a ver com a diabolização de Trump. Se fosse norte-americano, não sei em quem votaria, certamente que não em Hillary Clinton. Também não em Trump. Talvez no candidato libertário Gary Johnson. No entanto, Trump não é um pateta como o têm desenhado. Tem uma longa carreira, que acompanho desde os anos 1980, com muitos altos e baixos, e sobretudo tem duas grandes qualidades. É um homem que fez obra, e sempre que caiu, soube levantar-se e reconstruir a vida. A cobertura mediática que lhe está a ser feita não é séria, estão sempre à procura do detalhe, do deslize, da afirmação mais desbocada, para disso construir uma falsa imagem do candidato. Dos discursos só apresentam excertos sem enquadramento e acrescentados logo de demasiados epítetos e considerações opinativas. Quero ver o que vai acontecer se Trump ganhar as eleições.
Finalmente, o terceiro facto também é mundial. Diz respeito à repetição constante da ideia de Putin que declarar uma Terceira Guerra Mundial. Também aqui tenho mais dúvidas, que certezas, embora tenha gostado muito de ler o romance do general britânico Sir Richard Shirreff, War with Russia.
É verdade que a Rússia invadiu a Crimeia, é verdade que a Rússia está a destabilizar a Ucrânia, é também verdade que Putin já instaurou um governo autoritário na Rússia. Portanto, é verdade que a Rússia, tal como a China, apresentam visões alternativas ao modelo liberal ocidental, e nesse sentido são uma ameaça. Contudo, a atitude de Putin corresponde às atitudes históricas da Rússia de expansão para Oeste e Sul com vista a assegurar a sua fronteira e o acesso aos mares quentes. É evidente que tem que ser contido. Todavia, da contenção até à agitação de um perigo iminente de guerra vai alguma distância, e neste momento o maior perigo para o modo de vida ocidental,que apesar de todos os defeitos é o melhor que a humanidade já encontrou, vem da China e não da Rússia que ainda é um gigante ferido a lamber as suas feridas.
Por tudo isto é sempre bom encarar com cepticismo os "bombardeamentos" e a manipulação comunicacional a que estamos constantemente a ser sujeitos.

Rui Verde

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