Presidenciais para quê?

Depois daquilo que foi o mandato de Cavaco Silva e a campanha para estas eleições presidenciais em que o apontado vencedor se limitou a beber Sumol, tirar fogaças do forno e dar beijinhos a todo o ser que lhe aparecia pela frente, e se calhar a algumas pedras, parece difícil vislumbrar a necessidade efectiva de Portugal ter um Presidente eleito directamente pelo povo. Já se sabe que a Constituição atribui poucos poderes ao Presidente, como aliás se viu com os patéticos ou tenebrosos (não sei bem qual o adjectivo mais adequado) acontecimentos que levaram Costa ao governo.
Na realidade, o Presidente acaba por frustrar. Mais dia menos dia era bem melhor mudar-se o sistema, ou para um sistema presidencial típico ou para um sistema parlamentar. Esta coisa que temos só cria fricção e frustração.
Quanto à ideia que o Presidente é um árbitro, isso não é verdade. Árbitro é o povo. E quanto àquela outra ideia mirífica, quase do domínio do religioso, da magistratura de influência, nunca a vi. Se existe, não se vê. Só há influência quando há poder, não havendo poder, há fingimento.
Por tudo isto, não se vê razão para Presidenciais, a não ser aquela razão histórica ligada à vitória/derrota de Humberto Delgado. Ir votar nas eleições presidenciais é uma espécie de vingança permanente do povo português face a Salazar que retirou o direito a votar nestas. Esta é a única, mas a única (como agora dizem as jovens bloquistas) para se continuar a votar para Presidente.

Rui Verde

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