Fosun e BCP. A falta de racionalidade da operação

O grupo chinês Fosun vai entrar no capital do BCP, agora que a Sonangol não tem dinheiro. 
Segundo informações públicas, a entrada desse grupo obrigou o governo português a mudar a lei aprovando um regime que permite "às sociedades admitidas à negociação em mercado regulamentado procederem ao reagrupamento das suas ações, fora do âmbito de uma redução do capital social". Simultaneamente, parece que o grupo chinês beneficiará de um desconto de 10% face ao valor das acções de mercado.
Chineses, angolanos, paquistaneses, russos, alemães, americanos, haitianos, todos são bem-vindos ao mercado português, desde que venham jogar segundo as regras, sejam credíveis, e as operações decorram de modo transparente, e no fim deixem dinheiro para Portugal e os portugueses.
Mudar uma lei para agradar a um investidor é logo algo que levanta suspeitas. Conceder um desconto de 10% numa altura em que as taxas de juro são baixíssimas, bem como as cotações do BCP, é uma enormidade. 
O BCP já se apressou a declarar que a Fosun é um investidor credível e a proposta é positiva.
Vejamos mais de perto.
Estamos em Setembro de 2016. Em Julho de 2016, a Fosun anunciou por via da Bloomberg que estava de vendedora de activos, pelo menos no valor de 6 mil milhões de dólares. A razão essencial para essa decisão que apelidaram como estratégica foi a necessidade de pagar dívidas. Na realidade, o rating da Fosun na Moody`s é “junk” (lixo ) Ba3 e na S & P é de BB- (sem grau de investimento). Portanto, a Fosun é uma empresa endividada sem bom rating de crédito, pelo contrário-lixo. 
E necessita de se tornar mais magra e eficiente, gerando lucros para suportar o serviço da dívida.
Num sinal contraditório, no Verão, a Fosun comprou a equipa de futebol inglesa Wolverhampton por 45 milhões de libras e comprometeu-se a investir 30 milhões de libras nos dois anos seguintes. A imprensa inglesa além de noticiar a compra, refere que a Fosun tem ligações ao empresário de futebol português Jorge Mendes. 
Sobre esta compra poderemos pensar que é o cumprimento de um apelo do Presidente da China Xi Jinping no sentido de o país se tornar uma superpotência no futebol. Portanto, é uma decisão política para agradar ao Presidente. Não esquecer que em 2015, o líder da Fosun foi detido pelas autoridades chinesas de forma misteriosa e libertado da mesma forma, aparentemente para colaborar em actividades ligadas ao combate à corrupção na China. Seja por que for, a Fosun está under surveillance do Estado chinês.

Mas se a compra da equipa de futebol inglês se explica por razões políticas e de agrado ao Presidente, a compra de uma posição no BCP é mais estranha. 

É verdade que a cotação das  acções está baixíssima, mas também é verdade que o último grande investidor no BCP, a Sonangol, segundo números de Junho de 2016 tem uma menos valia potencial que  ultrapassa os 1,44 mil milhões de euros. Portanto, o BCP foi um cemitério de dinheiro.
Então, qual a racionalidade financeira para comprar uma posição no BCP por parte de uma empresa que está vendedora de activos devido à sua dívida enorme?
Por hoje fica a pergunta.

Rui Verde

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