Carlos Alexandre. O início da carreira política

O famoso juiz Carlos Alexandre deu uma longa e amena entrevista nos jardins do Museu de Arte Antiga à SIC. 
Se esta entrevista não foi para começar a promover uma carreira política, foi para quê? Para conhecermos o homem por detrás das decisões judiciais mais mediáticas do país, será a resposta. Mas para que queremos conhecer esse homem? Ou por puro voyeurismo ou para empatizarmos com ele e começar a pensar votar na sua pessoa.
Os indícios do passo político foram claros. Um linha política populista e de apego a raízes profundas lusas. Caracterizou-se como o "saloio de Mação". Uma "catch phrase" que o identifica, com um tom despreocupado e singelo, como próximo das pessoas. Enfatizou o trabalho e a religião católica. E fez o discurso suave anti-elites, além de ter a plataforma habitual da lei e ordem.
Foi afirmando que tinha a sua carreira judicial parada e não ambicionava ir para a Relação, tornando manifesto que não sendo o seu objectivo a carreira judicial, sendo um homem novo, não vai parar o resto da vida.
Foi uma bela apresentação de um novo político, homem que se fez a pulso, independente e sem amigos, estudioso, dedicado ao trabalho, um sacerdote. Há alguns traços da personagem idealizada de Salazar, outro dos homens do povo que se fez a pulso e embasbacou as elites. Que também era rural e gostava de ir para a sua casinha no Vimieiro.
Contudo, o que impressiona no discurso é a constante referência ao dinheiro, ao ordenado, à falta de dinheiro, aos ordenados miseráveis dos juízes, e por isso à necessidade que tem de trabalhar sem férias, sem sábados, para poder honrar os seus compromissos. Tudo certo. Estranhamente, esta é uma afirmação de uma larga maioria dos juízes. Queixam-se sempre do ordenando- que obviamente não deveria ter sido baixado nunca; tal é um ataque directo à independência da magistratura- mas têm os seus BMWs  e Mercedes, os seus apartamentos espaçosos, e as suas casas de férias.
Olhemos de perto para as questões financeiras.
Segundo, Carlos Alexandre declarou em tempos o seu rendimento familiar  mensal era de 10.000, hoje "reduzidos" a 8.000 mensais. Vive numa vivenda em Linda-a- -Velha, comprada em 2006 através de um empréstimo de 400 mil euros contraído junto da CGD. Despende 2 mil euros por mês com  casa.
Além da vivenda em Linda-a-Velha tem um apartamento na Praia do Carvoeiro, pago com um empréstimo de 100.000 de que reembolsa mensalmente 600 euros.
Tem carro próprio que substitui de 5 em 5 anos. Presentemente, é um BMW 320, que lhe custa 400 euros por mês. Portanto, mais outro empréstimo de cerca de 50.000 para o carro.
É ainda  proprietário de duas “pequenas casas em ruínas” no Alandroal, além de uns prédios arrendados em Évora.
Acresce uma moradia em Mação, que pertencera aos pais. 
Finalmente, está a construir uma nova moradia em Mação, para a qual obteve 100.000 de empréstimo.

Assim, face aos dados públicos, os rendimentos de Carlos Alexandre são de 8.000 por mês, possui pelo menos 5 imóveis em diversos estados e está a construir outro. Tem um BMW. E contraiu empréstimos no valor de 650.000 euros.
Facilmente, se vê que Alexandre tem uma boa e sólida situação patrimonial, muito acima da média de qualquer português; será tudo menos saloio, remediado. Este património vem do trabalho, mas também de herança (dos pais e sogro). 
Simultaneamente, conseguiu obter empréstimos  no valor total de € 650.000,00 o que para uma pessoa singular é um feito e está também muito acima da média.
Tudo isto é claro e transparente, apenas não pode, na nossa opinião, ser compaginado com uma demasiada humildade patrimonial que o juiz arvora na sua intervenção pública.

Voltando à intervenção política. É certo que afirmou que não se queria candidatar à Câmara de Mação. Acredita-se, a sua capacidade e os seus vôos não são para a política local, mas para o estrado nacional.
Aguardamos os futuros desenvolvimentos com interesse.
E fica a questão, será a SIC, aquilo que a TVI foi para Marcelo Rebelo de Sousa?

Temístocles Menor

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