China e Portugal. Um equívoco em curso

A penosa situação a que foi chegando a economia portuguesa em que o Estado tudo absorve, os empresários só viviam à conta dos negócios públicos e o investimento privado era diminuto levou, como é público, à venda de todas as grandes empresas portuguesas. Uma boa parte foi entregue a angolanos. Sobre esse tema tem-se escrito e vai-se continuar a escrever noutros locais. Mas um breve resumo do investimento angolano em Portugal é que este foi essencialmente uma lavagem de dinheiro, não teve efeitos reprodutivos, está a gerar desemprego e falências. E no fim, após a mudança em Angola, serão exigidas contas dos desvios efectuados, e as participações em Portugal estarão na primeira linha.
Outra parte da economia está a ser entregue a chineses. A China tem um cultura e civilização subtil, mas neste momento está a atravessar uma mudança significativa na sua liderança. Há uma política de reafirmação imperial por parte do líder Xi Jinping. Onde antes existia uma afirmação firme, mas tranquila da China, sob uma liderança colectiva, cujos elementos definidores foram estabelecidos por Deng Xiao Ping, agora assiste-se ao emergir de uma soberba inclinada para uma política de domínio continental, com ambições de ombrear com os Estados Unidos.
Nada disto seria negativo se a China fosse um país livre. Mas, o que se tem verificado é que ao mesmo tempo, os periclitantes Direitos  Humanos na China estão a ser mais cerceados do que é habitual e o punho de veludo de Deng está a ser substituído pelo punho de ferro de Xi. Simultaneamente, a economia chinesa, não estando em crise, apresenta alguns sinais de desconforto e de acumulação de dívida exagerada.
No meio deste "big picture" de endurecimento e expansionismo político e alguma incerteza económica, surgem indícios para intranquilidade. Um deles foi o estranho desaparecimento (depois apareceu risonho) do líder da Fosun, investidora em Portugal. No mínimo, não é certo quem investe em Portugal em nome da China e o que quer.
Assim, é do interesse nacional olhar para os investimentos chineses com mais cuidado, perceber quem são exactamente as pessoas que estão a investir. A sua capacidade financeira real. E os seus ojectivos estratégicos. Também é fundamental perceber e estar atento ao que se está a passar na própria China. Há mudanças. Há diferenças, e são para pior.
Caso contrário, entre os investimentos angolanos e os chineses teremos uma confusão adiante. 
O momento português devia ser de retracção, poupança e protecção para voltar a investir no médio prazo. Neste momento, apenas se adia uma crise que é permanente.

Rui Verde

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