House of Costa

Quando o PS, o PCP e o BE fizeram o golpe de Estado parlamentar que lhes permitiu formarem um governo alternativo ao da coligação que vencera as eleições legislativas, não faltou quem invocasse “Borgen”, a série televisiva dinamarquesa em que a criadora de um partido alternativo consegue chegar ao governo da nação.
Mas o padrão para a forma como nasce, e funciona o actual Governo, o da “geringonça”, tem mais a ver com a série americana “House of Cards”. Nesta série conta-se como o equivalente ao presidente do grupo parlamentar das democracias europeias, o “party whip” do Partido Democrático norte-americano, consegue – à custa das mais variadas negociações, maquinações, traições, tráficos de influências, corrupções e mesmo crimes de morte – chegar a vice-presidente e depois a presidente dos EUA.
Frank Underwood, o nome desta versão de Macbeth com um doutoramento em Ciência Política e especializações em “Os Doze Césares” e “O Príncipe”, a que dá corpo e rosto o actor Kevin Spacey, é um retrato exemplar do que podem fazer os políticos habilidosos e sem escrúpulos quando a democracia e os seus princípios e instituições falham e eles se movem por uma sede absoluta de poder absoluto.
António Costa, o primeiro-ministro triunfante, é uma espécie de clone de Frank Underwood, à escala portuguesa. Conquistou o poder de uma maneira parlamentarmente sórdida e mantém o lugar graças – pelo menos no que é visível – ao apoio de um BE e de um PCP que, famintos de poder, mergulharam com alegria naquilo a que a doutrina marxista-leninista definiu como “oportunismo de direita”.
Basta, alias, ver como a aliança do PS com o BE e o PCP funciona quando os seus chefes vislumbram algum perigo no horizonte. Os compromissos anteriores não existem, aguenta-se tudo e diz-se o que for preciso e o seu oposto.
É isso que torna tão difícil a tarefa dos partidos da oposição. Se estes cumprirem os formalismos da democracia parlamentar e se respeitarem os princípios básicos da lealdade democrática, terão sempre pela frente uma aliança feita de oportunismo e de fome de poder absoluto que quer sobreviver a todo o custo. O Governo pode, é certo, cair por um acaso, por um revés das circunstâncias económicas e financeiras, pelo resultado das eleições autárquicas (aconteceu com os primeiros-ministros Pinto Balsemão e António Guterres). Mas combatê-lo diariamente, o que é necessário, e derrubá-lo o mais depressa possível,, o que é igualmente necessário, pode exigir que, como o Underwood português, se deite mão de outros recursos.
Frank Underwood é uma personagem de ficção. Kevin Spacey é um ator fantástico e as suas interpretações em “Os Suspeitos do Costume” e “American Beauty” são memoráveis. Por isso, “House of Cards” é uma série extraordinária.
Ao contrário, a bem real “House of Costa” não é. É apenas um momento insuportável da democracia portuguesa que provavelmente não sobreviverá ao projecto de poder absoluto de António Costa se este se eternizar. 

Pedro Garcia Rosado

Comentários

Mensagens populares deste blogue

O porco com asas

Maria José Morgado. As coincidências no Expresso de 13 de Agosto.

Os patos na Justiça