As portas do Paraíso
Não sei o que é mais chocante nisto tudo: se a expressão de
alegria de “chico-esperto” do secretário-geral do PS (vai ser
primeiro-ministro, que bom) ou a crença do “povo de esquerda” de que se abriram
as portas do Paraíso e o tom vingativo e raivoso com que vitupera a “direita”.
E, em parte, compreende-se. Os apoiantes, eleitores,
simpatizantes e até clientes do PS, do BE e do PCP viveram durante quatro anos
na ilusão de que o Governo PSD/CDS cairia. Com manifestações, greves gerais,
cantigas, insultos e até mesmo com moções na Assembleia da República e de
certeza que nas eleições legislativas deste ano. E depois... o Governo não cau.
Pior do que isso, o PSD e o CDS não só ganharam as eleições como ficaram à
beira da maioria absoluta. Que azar.
Durante estes quatro anos, o PS (como se não lhe coubesse a
responsabilidade da bancarrota de 2011), o BE e o PCP estimularam a contestação
e foram garantindo sempre que haveria dinheiro para tudo, ou pelo menos para os
sectores onde esperam pescar mais votos. Reformar o Estado? Não. Manter o
Estado de quem sempre esperaram (e receberam) tudo é que sim. Porque, como
sempre, este Estado é o que dá mais empregos ao PS e mais dinheiro à
aristocracia operária do BE, do PCP e da CGTP.
Este encontro da fome com a vontade de comer, tendo como pano
de fundo a promessa dos “amanhãs que cantam”, deu nisto: uma estranha mistura
de acordos assinados à escondida e só com fotografia oficial entre o PS, o BE e
o PCP (esqueça-se o PEV, que é ridículo demais mencionar o apêndice), o derrube
do governo da coligação que ganhou as eleições numa atmosfera de vingança e...
milhões de euros a voarem para os bolsos dos vingadores.
O Paraíso que o PS, o BE e o PCP prometem ao “povo de
esquerda” é só isto: mais dinheiro. O curioso é que o prometem com o “já” do
costume: 2016. Só.
Mas os tais acordos têm mais buracos do que um queijo
Emmental. Não dizem nada quanto aos quatro anos que deveria durar esta
legislatura. Ou seja: o Paraíso fica-se apenas pelas portas.
O Estado, no entanto, não tem dinheiro para manter este clima
de festa durante muito tempo. A economia não cresce a esse ponto. O desemprego
também não diminui por magia. A instabilidade pode fazer aumentar os juros do
dinheiro que o País terá de continuar a pedir emprestado. A alternativa é o
regresso dos aumentos de impostos. Ou, para as mentes mais assanhadas,
eventuais operações de confisco domiciliário dos bens dos “ricos”.
Até pode ser que a perspectiva radiosa e estatizante do PS,
do BE e do PCP seja uma solução de futuro e que Portugal consiga enriquecer a
ponto de poder sustentar o seu Estado. Mas alguém acredita que isso é mesmo
possível? Ou não esconderão as portas entreabertas do Paraíso um novo inferno a
breve prazo?
Há quem diga que seria bom que este governo do PS (do “PS
sozinho”, como um jornal do PCP dizia em tempos de outra aventura do PS) caísse
rapidamente. Não me parece. Até porque em 2016 ainda haverá dinheiro. E muitas
ilusões.
Pedro Garcia Rosado
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