ESQUECI-ME

Esqueci-me, sou um esquecido e não tenho experiência em política internacional. Não estou capacitado para ser rei, nem presidente da república. O meu destino é comum e fácil de adivinhar: vendedor de bananas ou cronista do Expresso. Talvez prefira vender bananas porque se escolho escrever para o Expresso serei gozado; os meus amigos dir-me-ão, cada vez que nos reunamos em Campolide para jantar ensopado de borrego, “este escreve num lençol… de jovem pintava paredes, agora, deu-lhe para sujar lençóis…” Tenho o mesmo problema do Passos Coelho, esqueço-me ou não tenho dinheiro, esqueço-me porque deram-me a droga do esquecimento das bruxas e não tenho dinheiro porque vivo em crise permanente. Não me salva a Troica, nem o António Costa; o Euromilhões é esquivo e a Lotaria Popular lá vai dando para a bica.
O Passos Coelho esquece-se, certamente, porque talvez tenha a mente sempre ocupada; é um político trabalhador. Lembremo-nos que dentro do seu fazer tem que tratar desde o preço da farinha até as terapias de desintoxicação passando pelos custos da dívida pública ou o que diz o ministro-motard grego. Tem ministros que levam as partes, mas, ele tem que conhecer o todo. É um cérebro. É aplicado e estou convencido que sabe, inclusivamente, o preço da batata porque está interessado no cabaz da compra dos cidadãos reformados ou desempregos.
Quem nunca se esqueceu de pagar impostos?.. Muitos, mas, a razão do seu não esquecimento reside nos juros de demora. Não se esquecem por interesse. São egoístas, só pensam na sua algibeira. A questão chega quando não têm dinheiro e não pagam o esquecimento; demoram dois ou mais anos. São penhorados. Depois choram. Depois chega sempre uma sanguessuga conhecida ou amiga de um conhecido e pelo custo da dívida, fica com a casa ou com os sapatos do retardado. Estas sanguessugas continuam a mudar de carro; amante e relógio e se são do norte, são grandes benfeitores da igreja local e dos seus santos e santas. Em Lisboa não frequentam essas parolices; preferem as casas de repasto onde se come bem; bebe bom vinho e boa aguardente. Os mais modernos aldrabam o ritual; substituíram a boa aguardente portuguesa pelo whisky. Modernices. Nem sabem comer, nem beber. Desconhecem que o ensopado de borrego é uma delícia e comem Kushiage; uma espécie de espetada de carnes fritas que ficam brancas. Pensam que é mais fino ou pretendem acabar com os grelhados.
No meio do arraial que se chama: “governo do papo, mas, só papam os meus”, concordo com um membro desta maioria sociopolítica: Santana Lopes. Depois das ilustres palavras do atual Presidente da República ao indicar o currículo conveniente para o seu sucessor, Pedro Santana Lopes, automaticamente, afirmou que cumpria os requisitos, premissas e outras necessidades presidenciais. O Frágil, velho disco-bar do Bairro Alto, foi uma grande escola de políticos. Uma das funcionárias do Frágil é presentemente uma ilustre Presidenta duma Junta de Freguesia de Lisboa. Além disso, o Santana Lopes tem a experiencia da luta encarniçada que manteve com o Durão Barroso na Faculdade de Direito. O Durão Barroso era um aguerrido dirigente popular do MRRP. Conheci-o; não na Faculdade, mas, sim na Ágora do Rossio. Tivemos uma forte discussão; discordamos quando a conversa derivou para onde seria conveniente continuar com a controvérsia. Eu defendi ir para um espaço onde se pudesse beber imperiais; ele não; ele defendia a disciplina popular na hora da dialética; zangou-se comigo; eu não me zanguei e fui, como um feliz pequeno-burguês, com um camarada seu beber imperiais e discutir da vida, da morte e da sociedade. Mais tarde soube que andou, em grupo, a correr atrás de um exiliado espanhol de sintonia anarquista. Contaram-me que a certa altura parou e paralisou-se. O Santana Lopes tem, portanto, muita experiencia. Deve ser o sucessor do ilustre Cavaco Silva. Se Portugal, nessa altura, não existir, Santana Lopes tem capacidade para manter-se em Belém como vigia; como Farol.
José Luís Montero

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