PASSOS COELHO E OS TOSTÕES ESQUECIDOS

Vivemos no melhor dos países; no melhor dos mundos. Um primeiro-ministro que desconhece as suas obrigações com a Segurança Social é, sem dúvida, um político dotado para as grandes macropolíticas. Um país que tem o privilégio de ser governado por um Pedro Passos Coelho é um país que pode exercer, como mínimo, de pajem das grandes nações imperiais. A Prússia desapareceu porque no princípio do século XX não teve um governante ou um aliado como o Passos Coelho. Os impérios não precisam dos governantes para cotizar; precisam de compradores de submarinos e de drones. Neste País à beira-mar encostado acontece um milagre: um funcionário autárquico que ganhe oitocentos e noventa e dois euros mensais (bom ordenado…) entra-lhe no seu pé-de-meia (serão, também, descontos para os “serviços em crise”?..) setecentos euros. Algum ilustre político disse que tinha algumas reformazinhas que mal lhe davam para “calçar-se”. Ganhava bastante mais; muito mais; não sei quanto mais que este funcionário autárquico, no entanto, o funcionário, como é evidente, não precisa de gastar a jorna na compra de gravatas; com comprar uns quilinhos de arroz de marca branca; umas conservas de berbigão e um cartão de vinho chegam e sobejam. O Povo sempre foi sereno e além disso é austero. O ilustre político que mora ou frequenta as bandas de Belém tem outras necessidades e merece, também, comer um bom queijinho da Serra. O seu esforço pátrio deve ser recompensado. O funcionário quando regressa a casa tem que pensar “no como cozinhará o seu arroz”; o político tem que pensar se tem a gravata adequada para o beija-mão do dia seguinte; tem outra responsabilidade… Tem dedicação plena; muitas vezes nem pode ver a telenovela noturna porque sempre aparecem compromissos; jantares; reuniões com empresários ou telefonemas da Merkel. A vida política é dura e os políticos são homens abnegados e exemplo vivo do sacrifício pátrio.
Portugal, como sabemos, tem intelectuais pesados; escritoras de relevo como a Margarida Rebelo Pinto que são o autentico suporte moral do Governo de Pedro Passos Coelho. Um governo sem corpo intelectual de apoio está órfão; Passos Coelho tem uma grande prosadora que diz claramente que a austeridade só é contrariada pelos faltos de inteligência. Por isso, o corpo político e intelectual deste Governo não pode, nem deve perder tempo com os tostões que deve. A Segurança Social ou qualquer outra instituição pode esperar e segundo ouvi se demoras; ganha porque tem tabelas de juros “interessantes”. Além disso, estava prescrito; era inexistente, no entanto, a “esquerdista” contribuição à Segurança Social só pode ser paga fora de tempo se a justificação do devedor for aceite e portanto verosímil. Apesar de tudo, Pedro Passos Coelho, num gesto corajoso, deu uma parte significativa; pagou parte do todo ainda que essa parte estava sem a soma dos juros de demora. Depois, quando saísse do governo, pensava solucionar a dívida restante. O primeiro-ministro é claro nas suas contas e com as suas contas em relação ao Estado. Sempre há, no entanto, quem diz: “ se eu devesse um tostão, estava penhorado…” Mas, digo eu, quando dizem isto pensam como homens de Estado? Não, não pensam porque não sabem que os homens de Estado dão a vida e vertem muitas lágrimas pelos cidadãos e se o pede a Alemanha, dão a vida e a carroça da empreitada.
Portugal tem um líder que lutará, como disse recentemente, pela maioria absoluta nas próximas legislativas. O cidadão; o funcionário que ganha quase novecentos euros, mas, recebe setecentos, pode esperar mais quatro anos pelo pagamento da dívida fora de prazo como os iogurtes. Será; seria uma forma de lutar pela Pátria e dizer sim à “inteligente” austeridade. Dizem, também, as más-línguas que não notificou esse pequeno rendimento onde correspondia já que era membro da Assembleia da República. Recebeu, então, quando deixou de ser deputado, uma espécie de rendimento de reinserção social para se adaptar à vida dos mortais. As pessoas que desconhecem o suor que derramou durante a sua época parlamentar, queixam-se; gritam: “Olha! Olha o gajooo…” Num dos Países Nórdicos – esses que exportaram os biquínis para o Algarve e para Torremolinos no final dos anos sessenta do século passado- uma ministra não pagou a taxa da televisão; A senhora demitiu… O Passo Coelho não deve pensar nessa hipótese porque Europa ficaria mais fraca. O eixo Lisboa-Madrid-Berlim (velha capital prussiana) ficaria sem o cheiro castiço a rosmaninho e Lisboa perderia a sua altivez. Isto é Fado!..
José Luís Montero

Comentários

  1. teremos ainda de procurar a documentação da OMG dele que desapareceu. O buraco sem fundo da política portuguesa promete delicias aos que se aventurarem a explora-lo

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