Centeníadas. As desventuras do ministro das finanças

Algum elemento cósmico tem colocado os ministros das finanças socialistas recentes (Teixeira dos Santos e Centeno) como figuras trágico-patéticas de uma narrativa absurda. 

Basta lembrar a cara de Teixeira dos Santos ao lado de Sócrates, quando numa noite de Primavera este anunciava a vinda da tão detestada Troika. A cara de Santos era dramática. Primeiro, traíra o país para agradar ao primeiro-ministro. Depois traíra o primeiro-ministro para agradar aos banqueiros, que lhe agradeceram recuperando-o para a vida pública poucos anos depois. 
De facto, hoje Santos assumiu a presidência do Banco da sua homónima angolana,defendendo os interesses da ditadura ladra e passeia-se como grande senhor pelas televisões. Vergonha não lhe restou nenhuma. Francamente, malgré tout é preferível a determinação e combate de Sócrates que o sibaritismo de Santos.

Agora temos outro doutor. Um Centeno que veio de Harvard e do Banco de Portugal. Figuras parvas já começou a fazer, com o riso estulto que afivelava na segunda-feira após a vitória de Portugal no Euro, envergando um bonito cachecol aos ombros. Mas a sua marca são os comunicados diários que emite do ministério das finanças, que geralmente se enredam num português pífio e não conseguem dizer nada. 

O problema de Centeno parece ser algo de profundo e pessoal, mas que está a afectar o país de sobremaneira. Enquanto trabalhador do Banco de Portugal Centeno ganhou um concurso interno para dirigir os Gabinete de Estudos do Banco.Por razões que não são públicas ( e deviam sê-lo),o Governador Costa recusou-se a aceitar o resultado e a nomear Centeno. Obviamente, este ficou magoado com Carlos Costa, e como é normal deve detestá-lo. Este desagrado de Centeno tem-se sentido desde que tomou posse como ministro. Na realidade, não tem perdido uma oportunidade para tentar despedir Carlos Costa, achincalhar Carlos Costa, submeter Carlos  Costa aos maiores tratos de polé. Este mal-estar pessoal, quase de vingança, é notório. Naturalmente que isto afecta a condução da política bancária, e vêem-se os resultados. Centeno detesta Carlos Costa e não gosta dele. A inversa deve ser verdadeira, logo, não há articulação mas um jogo para ver quem "queima" quem. ´
É possível que um dia quando se escrever a história das trapalhadas bancárias no tempo deste PS, as animosidades pessoais surjam como o grande elemento condutor da política.
Aliás, deve ser isto que explica a forma manifestamente deplorável como tem sido tratada a administração cessante da CGD. Situação que deveria ter merecido já uma intervenção "tesa" do Presidente da República. José de Matos, o presidente de saída da CGD foi  Vice-Governador do Banco de Portugal de 2002 a Julho de 2011. E antes ocupou vários cargos no mesmo Banco. Ora Centeno também trabalhava no Banco de Portugal desde 2004, onde certamente se terá cruzado com José de Matos. Haverá aqui também animosidade? Não existem referências públicas, mas é estranho que antigos colegas num país como Portugal, em que a "old boy network" funciona de sobremaneira, Centeno e Matos, não se articulem e dêem este triste espectáculo de desgaste da CGD.

Centeno engoliu todas as suas ideias liberais acerca do mercado de trabalho, designadamente do modelo de contrato único que propunha "simples e flexivel, substituindo os contratos com termo incerto ou indeterminado, os contratos a prazo e os contratos temporários. Um contrato único, o mais precário de todos e para todos", nas palavras da Associação de Combate à Precariedade. 

De certa forma, Centeno é o novo Fausto, dominado pelos seus impulsos pessoais e pelos ajustes íntimos, aplica a política oposta à que acredita, envolvendo-se num ditirambo pouco convincente a uma política económica inexistente. Vai acabar em desventura.

Temístocles Menor

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