As putativas sanções e a Política. Uma nova forma de golpe de Estado?

Acabado o Campeonato da Europa, somos brindados,todos os dias, com o campeonato da sanções. Todos peroram, os economistas fazem contas com décimas, os comentaristas procuram os planos B, C e mais outros, e a Centeno de Harvard nem o cachecol o salva.
E na realidade, a história das sanções nada tem a ver com economia e finanças. É uma questão puramente política que tem um duplo objectivo: "Europeizar" o PCP e o BE e colocar o governo português actual "nos eixos". Nada mais.
Vejamos o contexto. A intervenção europeia de 2011 teve um plano e uma história que se repetia. Sempre que a troika achava que nos estávamos a desviar do plano, abria a boca, com as habituais "fugas" e declarações (que agora se repetem), e o governo português reagia logo fazendo (ou fingindo fazer o que lhe mandavam) e assim as punições eram evitadas, e supostamente Portugal seguia o plano.
A partir da saída da troika e sobretudo de meados de 2015, a percepção que se foi criando era que Portugal estava a desacelerar nas reformas. Houve complacência "europeia", pois esperava-se que fosse um aligeiramento provisório até às eleições. O problema é que surgiu um novo governo, que de um modo geral, fez o contrário do plano. Iniciou as reversões, revogações, retudo. Portanto, a "Europa" não se viu perante uma desaceleração provisória, mas perante um afastamento, uma desalinhamento do plano. Bem pode vir Centeno dizer que o orçamento está em linha, porque não é isso que interessa. O que interessa é o plano traçado em 2011. E é este que está a ser deitado ao lixo.
Assim, o que a "Europa" está a dizer é: ou se retoma a linha traçada em 2011. Frugalidade nos gastos, privatização, liberalização do mercado de trabalho, aumento da produtividade, etc, ou Portugal é punido. Tal atitude é sobretudo um repto ao BE e PCP. Ou estes alinham nas políticas europeias ou têm que ser defenestrados e o PSD aliar-se ao PS para por ordem no país.
O ministro alemão foi claro. As sanções são um incentivo. Incentivo para quê? Para retomar a anterior política e não a questionar. Se nada disto acontecer, é muito fácil a Europa fechar a torneira a Portugal e o governo cair em Outubro. Ou mesmo antes. 
De facto, estamos perante uma nova forma de golpe de Estado. Não vêm as espadas e os generais, vêm os Euros e os eurocratas. Mas o resultado é o mesmo. À força das armas, substituiu-se a força do dinheiro.
Tudo correrá bem se o PCP e BE aquiescerem com austeridade, (mesmo que finjam que não), liberalização do mercado de trabalho, privatização, etc. Se não entrarem nesse caminho, não há Centeno e orçamento em linha que os valha.
Resumindo: a "Europa" em 2011 traçou um plano para a recuperação de Portugal. Ao sair desse caminho, o governo Costa+BE+PCP desafiou frontalmente esse plano. Agora está perante a resposta. O contra-ataque. Isto é tudo política. Aliás, Costa sabe-o uma vez que centra os seus argumentos no Brexit, na Imigração e na turbulência europeia, e pode ser ajudado pelo caos que acampa em Itália em termos financeiros.
Em suma, estamos perante questões fundamentais de opção política, talvez fosse bom o Presidente da República explicar isto aos Portugueses.

Temístocles Menor

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