Inanidade da política externa portuguesa

É difícil perceber a política externa portuguesa nos dias de hoje. Parece que se tornou num mero repositório formal de convenções, e nada mais. Não adianta, nem atrasa. O seu ministro tornou-se irrelevante, não passando o posto de uma alta sinecura para compensar um político famoso.
Não é essa a nossa tradição. Portugal sempre teve uma política externa própria, muitas vezes sovada pelos ingleses, pelos espanhóis, e por outros, mas sempre se procurou posicionar (como agora se diz).
Actualmente, já não faz nada disso. O MNE é apenas um local burocrático e cinzento.
Dois temas recentes ilustram essa atitude: as relações com Angola e as relações com a Venezuela. Estes dois países encontram-se numa fase de difícil transição política, que pode acabar em guerra civil. Nestes dois países, Portugal e os Portugueses têm muitos e grandes interesses. Nessa medida deveria haver uma política externa inteligente de diálogo e estabelecimento de pontes entre os vários contendores e tentativa de aplanar caminho para a presença portuguesa.
O que se vê, pelo contrário, é a submissão da nossa política externa ao poder vigente em Angola e na Venezuela.
Em Angola, vê-se o governo português como "vendido" a José Eduardo dos Santos, e os portugueses como colaboracionistas. Quando houver a mudança de regime e JES for detronado, Portugal vai sofrer, porque não estabeleceu as pontes adequadas. A GALP, a NOS e outras empresas portuguesas vão ser alvo de turbulência, os milhentos consultores e trabalhadores portugueses em Angola podem ser perseguidos. Tudo isto será evitável se a política externa portuguesa for equilibrada e, respeitando a legitimidade formal, estabelecesse as adequadas pontes com os representantes da nova legitimidade material.
O mesmo se diga da Venezuela. Este país também foi pasto das negociatas de Sócrates, Portas e muitos outros.Já Capriles,o líder da oposição da Venezuela, referiu recentemente que o erro de Portugal é "em vez de estar com o povo venezuelano, apoiar um governo impossível".
O mesmo erro em Angola e Venezuela. O mesmo mau serviço aos portugueses aquando da mudança dos regimes.
A política externa não tem que ser formal, tem que ser inteligente. E inteligência é o que está a faltar aos MNE portugueses.
Note-se que a questão não é do PS. Ainda agora foi anunciado que o PSD vai estar representado ao mais alto nível no próximo Congresso do MPLA. Tem estado no Congresso de outras forças?
Há que repensar a política externa portuguesa.

Rui Verde

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