Eleições presidenciais: os limites da ambição (2)

Quando se olha para o leque de candidatos, pré-candidatos e protocandidatos (sobretudo à esquerda, onde eles têm proliferado), notam-se em todos eles ambições. Mas são elas más?
O industrial Henrique Neto, que já foi dirigente nacional do PS e deputado, tem uma ambição política: quer corrigir o rumo do País e encontrar uma via que não é a do Governo PSD/CDS nem, como agora se vê, a do PS de António Costa. Apesar de já ter tido alguns problemas com o Fisco, segundo foi noticiado, Henrique Neto pode ser considerado um “empresário de sucesso”. É interessante recordar que os presidentes desde a aprovação da Constituição em 1976 foram dois advogados que trocaram a profissão pela política (Mário Soares e Jorge Sampaio), um militar de carreira (Ramalho Eanes) e um economista que foi professor do ensino superior público e quadro do Banco de Portugal (Cavaco Silva). O “mundo real” da economia nunca esteve representado em Belém. Talvez desse jeito, um dia.
Mas não é só nisso que Henrique Neto pode inovar. Para já deve ter sido o único candidato a Presidente (e Presidente, eventualmente) a deixar-se fotografar a fazer a barba e com um mamilo estrategicamente ao léu.
O ex-reitor do ensino público Sampaio da Nóvoa está no pólo oposto. É um homem da administração pública, um professor do ensino superior, um orador de frases que pouco significam mas que soam bem. Já leva atrás de si um grande cortejo: apoiantes sinceros e outros que nele confiarão para garantirem a manutenção da sua influência. Mas bastarão os discursos bonitos e um currículo reitoral para afirmar um Presidente da República? Ao apostar em Sampaio da Nóvoa, o PS só mostra o contrário do que parece desejar. Na categoria dos reitores com influência, o PS terá tido sempre à sua disposição o ex-reitor da Universidade de Coimbra e jurista Rui Alarcão. Manobrador exímio nos bastidores e rebelde público sem o mostrar acintosamente, Rui Alarcão até podia ter sido um bom Presidente da República. É por isso, e retirada de Guterres, que à opção do PS por Sampaio da Nóvoa se pode aplicar uma versão do célebre provérbio de que quem não tem cão caça com gato… desde que o gato seja ambicioso.
Se Sampaio da Nóvoa acredita que Belém é o corolário da sua actividade pública, o mesmo se deverá passar com Carvalho da Silva, o ex-secretário-geral da CGTP que, terminado o múnus sindical, se foi doutorar na universidade da esquerda institucional, o ISCTE. Não são recentes os rumores de que o ex-sindicalista se candidataria a Presidente da República e até é natural que assim seja: Carvalho da Silva era uma figura da televisão; agora já não é, substituído que foi pelo seu sucessor Arménio Carlos, pelo candidato a sucessor Mário Nogueira e pelo seu rival Jerónimo de Sousa. Quem lhe pode censurar essa vontade de levar a CGTP e o seu conceito de um PCP quase exclusivamente sindical para Belém? Não era Lula da Silva um sindicalista? Os bons exemplos são para se seguirem.
E Paulo M. Morais? É o segundo candidato a entrar formalmente em cena depois de Henrique Neto e, de todos, é o mais ambicioso. Não se notabilizou pela sua actividade docente, nem pelo que terá feito na Câmara Municipal do Porto quando era o seu número 2. O que dele se conhece são intervenções na televisão e nos jornais. E com interesse? Não. Este candidato, que precisa de ter alguém que lhe explique rapidamente os poderes presidenciais, não consegue passar dos chavões. É de ideias fixas, transformando a «corrupção» na origem de todos os males políticos. Que interessam as questões sociais, económicas ou financeiras? Se ele for combater a «corrupção» a partir de Belém, fica salvo o País. Supõe-se que, no mínimo, teríamos um Presidente a (querer) mandar na Procuradoria-Geral da República, na Polícia Judiciária e nos tribunais todos. Arauto do combate contra a «corrupção», de Morais se pode dizer que se deixou corromper pelo fascínio da sua imagem. 
Estes candidatos, ou pré-candidatos, afirmam-se no limite das suas ambições. Seguem-nas e têm pressa.
É natural que os verdadeiros candidatos credíveis, mais discretamente ambiciosos, só apareçam mais tarde. Rui Rio (que tem a ambição de trocar o Porto pelo País), Marcelo Rebelo de Sousa (que ainda não se sabe se quer ter a ambição de trocar o seu domínio exuberante da televisão pela reserva do Palácio de Belém) e Guilherme d’Oliveira Martins (que é um bom gestor das suas próprias ambições e que por isso se pode guardar para outras eleições) podem esperar. Ainda não atingiram o limite das suas ambições.

Pedro Garcia Rosado

Escritor e tradutor
http://pedrogarciarosado.blogspot.pt

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