E a seguir a Costa, quem é?

Dentro de seis meses haverá eleições legislativas, depois de o actual governo ter cumprido um mandato completo; daqui a oito meses fará um ano que o anterior primeiro-ministro (e o mais carismático líder do PS depois do fundador Soares) se viu sentenciado à prisão preventiva por suspeita de vários crimes de “colarinho branco”; daqui a dez meses haverá eleições presidenciais.
António Costa, o secretário-geral do PS que sucedeu a António José Seguro (que por sua vez sucedera ao detido), até pode ganhar as eleições legislativas. O que já lhe dificulta a vida não está apenas dentro do seu partido mas fora dele e um dos problemas, para o PS; é a proliferação de novos grupos, partidos, associações políticas e seja mais o que for que vão também lançar-se ao assalto (eleitoral) do Parlamento.
Dificilmente, porém, conseguirá Costa ter a maioria absoluta e o facto de já ter anunciado que a ia pedir transformará em derrota uma maioria simples. 
A maioria absoluta dar-lhe-ia um governo exclusivamente do PS e lugares para distribuir por todos os influentes do partido. Uma maioria simples obriga-o a alianças. O Governo, nessa circunstância, viverá sempre na instabilidade.
A detenção do anterior primeiro-ministro não lhe fez a vida mais fácil. Só o teria feito se Costa assumisse uma ruptura drástica com tudo aquilo que foi o “socratismo” e a ameaça de bancarrota de 2011. Mas isso pô-lo-ia debaixo de fogo dos “socráticos”, que lhe serviram de generais para a guerra a Seguro. O “socratismo” mancha este PS. 
As eleições presidenciais, nesta fase, parecem um combate político sugestivo mas nada além disso. 
Só um único reitor poderia ter sido candidato a Presidente da República e talvez mesmo chegar a Presidente: Rui Alarcão. Sampaio da Nóvoa não é Rui Alarcão. Não conhece leis nem subtilezas. Une a sua óbvia ambição pessoal (e tem direito a tê-la) a discursos e aparições de que a “esquerda” gostou. Mesmo que ganhe as eleições presidenciais de Janeiro de 2016, o que com ele ganha não é o PS mas uma vasta aglomeração de ideias, simpatias, interesses, desejos, palavras “politicamente correctas”, muitas doses de “wishful thinkings” e as mesmas esperanças que levaram muita gente a acreditar que conseguiria derrubar o governo que saiu das eleições de 2011 talvez em 2012, ou em 2013 ou ainda em 2014 ou antes de Setembro de 2015.
A política portuguesa tem o hábito arreigado do “perde, paga” partidário. O dirigente máximo de um partido que perca as eleições tem de sair do cargo. (Há uma excepção curiosa: o PCP. Nunca “perde” as eleições e o secretário-geral é-o apenas porque está a cumprir uma “tarefa” que lhe foi imposta pelos camaradas.) 
António Costa já deixou de ser um secretário-geral consensual no PS. O “caminho das pedras”, que se prolongará para lá das presidenciais com um governo eventualmente instável e o julgamento do ex-primeiro-ministro (e do “socratismo”?), vai ser cada vez mais difícil. 
Como no PS já se sussurram cenários alternativos a Costa, o debate bem pode começar a emergir dos alfobres partidários: a seguir a Costa, quem é? 

Escritor e tradutor
http://pedrogarciarosado.blogspot.pt

PEDRO GARCIA ROSADO

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