Politique d'abord

Ao contrário do que se possa pensar a actual difícil situação portuguesa não é de cariz económico, na sua essência. É uma questão de política e como tal deve ser encarada.
Há dois factores que condicionam Portugal, (a)a pertença ao Euro e (b)o sobrepeso do Estado (usando a feliz expressão de Miguel Cadilhe).
(a)A pertença ao Euro submete Portugal aos ditames alemães que impõem uma política financeira restritiva, um orçamento equilibrado. Os alemães sempre que acham que um país pode sair dessa trajectória não hesitam em o colocar no lugar, qualquer que seja a legitimidade política em que a decisão do país assente. Na visão alemã, não há espaço para alternativas às regras do jogo do Euro. Quem quer alternativas deve sair. Podemos não concordar com a perspectiva alemã, podemos achar que ela não dá frutos ou é arbitrária (como explicou Mariana Mortágua num artigo no Público recentemente a propósito do conceito de défice estrutural), mas a realidade é que o Euro tem regras e essas são as alemãs. Aliás, há que lembrar que o Euro foi uma construção política proposta por Miterrand para aceitar a unificação alemã. Pensava Miterrand que retirando o marco da Alemanha esta ficava bem atada à convergência europeia. Pensou bem, mas não percebeu que a Alemanha só abandonou o marco com garantias que teria um moeda controlada por si, o que também efectivamente acontece.
Neste caso, a equação é muito simples, se Portugal quer ficar no Euro, tem que seguir os ditames do dono do jogo: a Alemanha. É a colagem à Alemanha que inspira confiança nos mercados, é a descolagem que inspira desconfiança. A opção política é essa: ficar ou deixar o Euro. Optando por ficar deixa de ter sentido falar-se em democracia ou metodologias diferentes. O funcionamento de uma moeda não é uma questão de democracia, é uma questão de ter os "fundamentals" da economia sãos, e de existir confiança. E aí sejamos claros, o Euro depende da força da Alemanha.
(b)O outro factor que condiciona Portugal e se baseia numa opção política é o Estado Social. Em Portugal o Estado Social tornou-se demasiado pesado e ineficiente,presa fácil de interesses instalados. Por isso, a situação financeira do Estado é sempre deficitária. O povo português não consegue pagar o Estado que tem e por isso precisa de pedir dinheiro emprestado. O problema é que para pedir dinheiro emprestado barato tem que estar no Euro, mas para estar no Euro tem que equilibrar as finanças e para equilibrar as finanças Portugal só conhece uma receita:aumento de impostos, e o aumento de impostos torna a economia pouco atractiva e competitiva, limitando o crescimento económico.
Isto quer dizer essencialmente que o peso do Estado em Portugal é incompatível com a pertença ao Euro. Um dia haverá que escolher entre uma coisa ou outra. Essa é uma decisão política. Caso contrário, estaremos sistematicamente a ir, mais ou menos disfarçadamente, à falência.

Os solavancos que Costa anda a sentir resultam dessa política incompatível. Por um lado, quis ser bonzinho e dar prebendas através do Estado, por outro quer estar no Euro, até para obter financiamento a baixo custo. No entanto, a médio-prazo esta equação é impossível. Opções terão que ser tomadas: desmantelar o actual Estado Social ou sair do Euro, ou quiçá poderá ser tarde demais e as duas coisas ocorrerem. Mas o importante é perceber-se que a situação é estrutural e nãos e resolve com pequenos paliativos. Dá ideia que Vítor Gaspar percebeu isso, e perante a magnitude da tarefa, fugiu...e Manuela Ferreira Leite ( na versão anterior a TV star) percebeu o mesmo quando falou em suspender a democracia. 

Resumindo, o tempo é de política a sério.

Rui Verde

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