Dissenso

Fico nervoso quando vejo um político importante, em vez de traçar uma linha de rumo, apelar ao consenso, ao diálogo, à unidade. É sinal de marasmo. Faz lembrar as antigas palavras de Lucas Pires segundo as quais ser meias-tintas é meio caminho andado para ser troca-tintas.
Os consensos geralmente espelham mínimos denominadores comuns que não resistem aos embates com a realidade.
Mas é isso que está a acontecer em Portugal.
O que era preciso era o dissenso e um rumo novo para o país. Não uma volta ao passado que nos levou ao pântano. Como aprendemos na nossa tenra infância " é da discussão que nasce a luz".
O dissenso é mais importante que o consenso.
Por isso, vou dissidir.
Não partilho da unanimidade acerca de Marcelo Rebelo de Sousa, embora tenha votado nele. Não vejo porque tem que andar em festa, visitar o Papa e dizer que não quer bancos espanhóis. Prefiro bancos espanhóis a bancos angolanos ou pertencentes a Ricardo Salgado. Acho a visita ao Papa ridícula, apenas para ficar na fotografia, e francamente ainda não percebi o que Marcelo pensa e quer para o país, além das banalidades dos afectos. Quem quer afecto tem namoradas, mulheres, filhos, pais, companheiros de desporto, certamente não quer um presidente que lhe dê rosas, sim pão, como D.Isabel fazia aos pobres do seu tempo.
Também não vejo a razão porque o opado Guterres há-de entusiasmar alguém a não ser ele próprio com a candidatura a secretário-geral da ONU. Não veja nada de positivo que Guterres tenha trazido ao país enquanto estadista, a não ser largar-nos no pântano e oferecer-nos Sócrates. Francamente, acho que é tempo de uma mulher ser SG da ONU.E para figuras tristes já chegou Durão Barroso.
Não percebo porque é que o PSD não se assume como oposição a sério e votou contra a ratificação orçamental para permitir o Banif e contra o apoio da Grécia e Turquia. Assim, havia embates, e obrigação de escolhas. O que temos agora é um fingimento. O PSD finge que é oposição, mas chega a hora e ampara o Governo, e já vão duas vezes.
Também não percebo que Esquerda é esta que aprova um Orçamento com uma matriz quase-liberal, pouco diferente daquilo que o PSD teria apresentado.
Finalmente, era bom que o Brexit permitiesse em Portugal uma reflexão séria sobre a nossa pertença à União Europeia. Talvez não seja o ideal que muitos pensavam, e certamente está a acabar com o país.
Há que haver dissidência.

Rui Verde

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