A democracia em Portugal

A estupefacção apoderou-se de muitos portugueses quando ouviram Passos Coelho, depois de meses a esbracejar contra o governo ilegítimo de Costa, na grande oportunidade que o teve em confrontar...deitar-lhe a mão em nome do interesse nacional...Dizia Samuel Johnson que o patriotismo era o último refúgio de um canalha. Não se vai tão longe e chamar ao antigo primeiro-ministro tal. Pelo contrário, até parece um homem decente. Mas fica a sensação amarga que em Portugal a democracia é de faz-de- conta e não há oposição a sério. No Banif claramente houve interesses opacos ( que um dia virão ao de cima) que obrigaram PPC a contemporizar com Costa. 
Uma democracia precisa de ter eleições, oposição e dissidência, e um poder judicial independente. A democracia portuguesa tem eleições, mas está condicionada. Condicionada desde logo pela União Europa. O primeiro- ministro português tornou-se um mero gestor de território. Depois há aqueles factos estranhos como o BPN, BES e Banif em que tudo é enrolado e no fim de contas não se tiram ilacções políticas ou legislativas, fazendo sempre lembrar o famoso dito do Príncipe de Lampedusa, alguma coisa mudar, para ficar tudo na mesma.
O governo Costa com a sua aliança peregrina parece seguir esse dito. Finge que muda alguma coisa, para tudo ficar na mesma.
Ao contrário do que muitos dirigentes portugueses dizem, na velha tradição salazarista, Portugal não precisa de consensos. Os consensos afundaram o país; Portugal precisa de dissenso, conflito, oposição, para evoluir. Há que questionar a União Europeia, a pertença ao Euro (hoje o grande peso da nossa economia), a classe dirigente arenosa que existe, a justiça deferente com o poder político.
Se esse questionamento não é feito agora, haverá um dia que as correntes da revolta emergirão e levarão tudo em frente como já aconteceu no passado.
Este não é um tempo de invocações ocas, falsas, de interesses nacionais putativos. É um tempo de combate, de confronto, de acção, por um país melhor, civilizado, em progresso.
Rui Verde

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