Sinais de fogo?

Duas notícias sobre a Grécia que, à primeira vista, parecem estranhas.
Uma é de hoje (e apenas se vê, com destaque no "Observador") e informa que nove jornalistas gregos que defenderam a opção "sim" no referendo do passado domingo estão a ser "investigados" por ter havido "queixas feitas por telespectadores". A "investigação" é a três níveis: Ministério Público, sindicato local dos jornalistas e entidade reguladora da comunicação social. A notícia (http://observador.pt/2015/07/08/jornalistas-pelo-sim-chamados-a-comissao-de-etica/) é elucidativa e suscita dúvidas sobre a saúde democrática da Grécia do Syriza.
A segunda notícia é menos recente e data ainda da fase pré-referendo. Em alternativa a um aumento do IVA, o FMI propusera cortes nas despesas militares (a Grécia gasta 2,1 por cento do PIB no sector militar e é um dos orçamentos maiores da União Europeia para esse sector) mas o governo grego recusou-se. O corte proposto para 2016 seria de 200 milhões de euros e, em 2017, seria de 400 milhões.
Desde o agudizar da crise grega, os militares (num país onde a intervenção dos militares na vida política não é invulgar) têm-se mantido silenciosos. Ao contrário do que poderia pensar-se, perante o agravamento da situação decorrente do fecho dos bancos, os militares não se fazem sentir. É como se apoiassem o governo do Syriza que, com a "investigação" aos jornalistas, revela um rosto autoritário inquietante.
Estas duas notícias passaram quase despercebidas na imprensa portuguesa, onde o Syriza goza de visível apoio. Mas a investigação (e com tantos enviados "especiais" em Atenas...) e a especulação seriam naturais. Melhor: seriam um acto normal de um jornalismo sério. Só que... ele ainda existe?

Costa Cardoso

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