O Euro é um projecto político, não económico

A adesão portuguesa, e de muitos outros países, ao Euro não foi uma decisão de racionalidade económica, foi uma decisão política.
Aliás, ainda recentemente a abertura dos arquivos do governo alemão referentes aos anos de 1994 1998 demonstrou que quer Helmut Kohl, quer os seus conselheiros e assessores, estavam perfeitamente cientes que a Itália não tinha condições económicas e financeiras para aderir ao Euro, mas decidiram essa adesão baseados em critérios basicamente políticos. O embaixador da Alemanha em Itália à época confirma que existiu uma “flexibilidade construída” entre os decisores políticos quando se tratava da aplicação dos critérios de Maastricht. E da leitura dos vários documentos alemães (com análises do adido financeiro da embaixada em Roma, Barão Stenglin; do Embaixador Dieter Kastrup; do Secretário de Estado no Ministério das Finanças Jurgen Starck, do conselheiro de Kohl, Horst Kohler, principal negociador do Tratado de Maastricht ou de Klaus Regling, alto funcionário do Ministério das Finanças) vê-se claramente que havia a noção que a Itália não tinha capacidade para aderir ao Euro e que as suas contas estavam maquilhadas. No entanto, Kohl decidiu por razões políticas fazer entrar a Itália. Aliás, é bem provável que tal tenha acontecido em outros casos como Portugal, ainda que não tão profusamente documentados como o da Itália.
Por isso, há que perceber que  a final o Euro é o produto de determinadas opções políticas voluntárias e não uma inevitabilidade económica.

Rui Verde

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