O fim do jornalismo português(2)

Numa zona central da cidade de Caldas da Rainha, capital do concelho com a mesma designação onde moro, existe uma loja que é um misto de papelaria/tabacaria/livraria, de escolhas criteriosas e pessoas simpáticas.
É aí que compro regularmente algumas revistas (cinema, inglesas, e de vinhos, portuguesas) e os jornais ao sábado. 
As publicações estão bem arrumadas e há uma particularidade significativa: os jornais (diários e semanários) estão num canto dispostos num escaparate à altura do tornoze e quem quiser ver-lhes as primeiras páginas tem de curvar-se. Ao contrário, as revistas “sociais” e de televisão (também “sociais”) estão na linha de visão de uma pessoa de estatura média, mesmo à direita da caixa e no que pode ser considerada a zona nobre da loja.
Numa banca de rua, a poucos metros, onde o espaço está mais condicionado, os jornais do dia nem se vêem a um primeiro relance. Mas as revistas, “sociais” e outras, lá estão, bem à vista.
O computador pessoal que uso, com o sistema operativo da Microsft que é o Window 10, brindou-me, quase logo no início de o ter, com uma singularidade. Ao abrir o programa de navegação Microsoft Edge, aparece-me uma catadupa de “janelas” com “notícias”, de fontes diversas, vagamente actuais umas e ultrapassadas outras e uma infinitude de “O que deve saber…”, “Saiba tudo sobre…”, “Porque deve comer banana” (a sério!), “Conheça os lagos mais bonitos do planeta” e coisas do género. É uma coisa chamada “MSN Portugal”.
O menu não me atrai especialmente, há fontes duvidosas e os erros de português, além do estilo, repelem-me em absoluto.
Acredito, porém, que todas as pessoas a quem isto aparece se dêem por satisfeitas: já têm todas as notícias do dia e o que ouvirem na rádio, virem de passagem na televisão ou encontrarem no Facebook completam o menu proposto.
Alguém acredita que, neste quadro, há quem queira comprar jornais?

Pedro Garcia Rosado

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