O fim do jornalismo português (1)

Acredita, leitor, que o jornalismo e os jornais têm futuro, em Portugal? Se sim, peço-lhe que se dedique a um pequeno exercício, comodamente, no seu computador, hoje, amanhã, talvez durante dois ou três dias.
Vá ao site Sapo24 (http://24.sapo.pt/jornais). Encontrará aí as primeiras páginas dos jornais diários (e semanários) portugueses, dito generalistas, com uma actualização diária (normalmente mesmo ao princípio da manhã). Esta exposição diária dos cinco matutinos que se publicam em Portugal (as que se juntam os semanários e as revistas também generalistas nos seus dias de saída) funciona como uma banca de jornais. Acredito que já poucas devam existir e acredito ainda mais que, onde existem, o que predomina são as revistas. 
Mas era assim em Lisboa, com os jornais bem à vista. As televisões talvez desenvolvessem algumas das notícias das primeiras páginas e as rádios também. Quem queria saber mais, comprava o jornal, ou jornais. Nunca foram caros, verdadeiramente.
Vá ao Sapo24, leitor. Do que vê, e só pelas primeiras páginas, compraria algum desses jornais? Comprá-los-ia, só por esta ou aquela notícia e isso satisfazia a sua curiosidade? Não, porque talvez sinta que agora já não precisaria de comprar algum.
As televisões de manhã fazem resumos das primeiras páginas, o Sapo24 já as mostra, o único jornal generalista “on line” (“Observador”) vai fazer um pequeno resumo do que pode ser a notícia mais importante. O “Expresso” on line fará o mesmo a caminho das dez horas. Se a curiosidade triunfa, os jornais têm os seus sites próprios. Uns em formato aberto, outros codificado. Mas até pode ser que no Facebook já haja uma primeira informação sobre a “notícia do dia”, através de “posts”, proclamações e comentárips.
À tarde já não se publicam jornais em Portugal. Nem são precisos. As notícias esgotam-se, em princípio, nos telejornais da hora do jantar. No dia seguinte haverá outras coisas.
Mas os jornais foram pensados para ser comprados pelos seus leitores. É por isso que, desde a manhã, há chefes a trabalhar, que foram escolhidos pelos proprietários dos jornais, para apresentarem notícias e títulos que, na manhã seguinte, levem as pessoas a comprar jornais. E as pessoas compram? Não.
Nos jornais diários, o “Correio da Manhã” ainda deve subsistir com as vendas (graças a uma orientação mais “popular” e à projecção que lhe dá a CMTV). No outro extremo, está o “i”. É um mistério como ainda é mantido. O “Público” é um défice permanente, o “Diário de Notícas” já despediu pessoas, já mudou de sítio e não desapareceram os rumores que davam conta da sua transformação em semanário. O “Jornal de Notícias”, com as suas primeiras páginas indigentes, é um pequeno enigma, até porque pouco mais consegue ser do que um jornal regional.
É possível que todas as empresas envolvidas nestes negócios tenham os seus motivos, legítimos ou outros, para manterem jornais deficitários e sem futuro. É possível que os jornalistas que os fazem continuem entusiasmados, em geral mal pagos, a pensar que vão endireitar o mundo. Mas não vão.
Deviam era talvez prepararem-se  para endireitarem as suas vidas, quando estiverem no desemprego.

Pedro Garcia Rosado

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