CRÓNICA: O TAMBOR ESPANHOL
Vejo; leio, mas, não vejo, nem
leio nada. Espanha vive uma onda seca. Não se trata de uma onda de mar ou de
uma ondinha de riacho; trata-se de uma enorme onda de dinheiro que circulou e
circula por todos os escritórios oficiais e oficiosos. A onda talvez seja a
mesma que começou a formar-se no tardo-franquismo com a entrada dos ministros
“renovadores” do Opus Dei. Esta onda ganhou adesões e recebe de imediato a gota
do caso Banca Catalã onde o sempre presente nacionalista Jordi Pujol começa a
mostrar o seu poder para permanecer impune. No entanto, o PSOE não quer ser
menos e aparece Filesa. O Partido Popular mostra de imediato o savoir-faire do
seu tesoureiro Angel Sanchis. Espanha espanta-se então com o fim do filipismo;
o adeus de Felipe Gonzalez também foi um adeus visível a uma cacarejada ética
socialista.
Entretanto, o Rei permanecia
imune por cima do bem e do mal. Espanha só conhecia o Rei corta-fitas da
televisão e o que ouvia de boca dos choferes de táxi madrilenos. O Rei era uma
espécie de santo simpático. Mas, certo dia, começou a caçaria e o Rei teve que
desarmar-se; perdeu a aura; ficou sem balas e sem simpatia. O círculo apertado
e querido, a sua filha Cristina, saltou abruptamente para o mundo das notícias
duvidosas. O Rei que se dizia pobre abdica, mas, abdica com fama de Rei rico.
Espanha vive a novidade esperada de ver muitas autoridades desfilar caminho,
como mínimo, da prisão preventiva.
Temos notícias abruptas da visita
da Polícia a casa de mais de cinquenta ex. ou atuais mandatários. O Partido
Popular enche o saco, mas, outros partidos também têm o seu saquinho da compra.
Presentemente, quando vejo esta
loucura de favores; dinheiro e inclusivamente noites de cabaré, penso nos meus
anos moços e nas minhas idas à Galiza e o seu caciquismo. Os velhos caciques
galegos, muitos deles, levavam mais de vinte ou trinta anos no Poder Local.
Normalmente, eram pobres antes de chegar ao Poder, mas, depois, fizeram-se
ricos, acomodados e apreciadores de boa mesa. Todos diziam e dizíamos que
roubavam; em muitas povoações tentou-se acabar com eles pela via judicial.
Pouco se conseguiu ou nada. Anos mais tarde, Mariano Rajoy, negociou a retirada
de alguns caciques; Aznar, então no Governo, precisava de uma imagem limpa;
também, teve algum fracasso sonoro com um compadre. No entanto, esses velhos
caciques não eram tão burros como estes governantes. Presentemente, governam
uns quantos anos e começam a ser encaminhados para os Tribunais. Não percebo ou
talvez perceba: os políticos espanhóis além de ser corruptos, são burros.
José Luís Montero
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